Por Adam Jourdan e Monica Machicao e Herbert Villarraga

BUENOS AIRES/LA PAZ/BOGOTÁ (Reuters) – Atingidos duramente pela pandemia de coronavírus, os latino-americanos estão enfrentando dificuldades para se vacinarem, uma ameaça à recuperação econômica frágil da região no momento em que lockdowns são endurecidos para combater uma disparada perigosa de infecções e um número crescente de mortes.

A região de cerca de 660 milhões de habitantes responde por quase 30% das 3,2 milhões de mortes de Covid-19 em todo o mundo até agora, apesar de abrigar somente 8% da população mundial. Embora regiões como África e Ásia também estejam atrás da Europa e da América do Norte no quesito vacinações, especialistas de saúde dizem que a necessidade de vacinas da América Latina é urgente.

A escassez se deve a alguns fatores: países de alta renda obtiveram a maioria das doses disponíveis, e autoridades latino-americanas citam dificuldades para fechar acordos para suas próprias populações. Um plano para fabricar a vacina da AstraZeneca localmente sofre com atrasos, e fornecedores como a Rússia enfrentam seus próprios percalços.

Enquanto isso, o programa global Covax, concebido para distribuir vacinas a países mais pobres, é prejudicado por problemas de produção, falta de apoio de nações ricas e uma decisão recente da Índia, a maior fabricante de vacinas do planeta, de limitar as exportações.

Como a distribuição de vacinas está aquém de planos antes ambiciosos, os casos de coronavírus disparam, e unidades de tratamento intensivo que vão da Argentina à Colômbia ficam cheias e a quantidade de óbitos atinge altas recordes.

“Existe uma grande sensação de desamparo”, disse Elkin Gallego, cuja esposa esperava um leito de UTI na capital colombiana Bogotá, onde as autoridades de saúde dizem que os suprimentos de vacina estão acabando. “Como humano, você não consegue fazer nada.”

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou neste mês que a distribuição lenta de vacinas e o ressurgimento de casos “ofuscam” as perspectivas de recuperação econômica de curto prazo da América Latina.

Líderes regionais pressionaram para conseguir mais vacinas em uma cúpula ibero-americana da semana passada, e a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, disse que a carência regional representa uma ameaça global.

No Brasil, o maior país da região e um epicentro global do vírus, o governo passa apuros para conseguir doses suficientes e está vacinando na metade da velocidade que previu inicialmente.

(Por Adam Jourdan em Buenos Aires, Monica Machicao e Sergio Limachi em La Paz, Herbert Villarraga em Bogotá, Carlos Valdez em Lima, Stephen Eisenhammer em São Paulo, Aislinn Laing em Santiago e Daniela Desantis em Assunção)

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