Sob pressão do Partido, o senador democrata americano Al Franken, de 66 anos, anunciou nesta quinta-feira (7) que renunciará ao cargo em função das várias acusações de assédio sexual contra ele.

Franken é segundo político democrata de alto perfil a deixar o cargo esta semana.

“Digo, do fundo do meu coração, que não fiz nada como senador para desonrar essa instituição”, declarou ele, em um discurso emocionado em plenária na Casa.

“De qualquer modo, hoje estou anunciando que, nas próximas semanas, vou renunciar como membro do Senado dos Estados Unidos”, afirmou Franken, ex-comediante que foi acusado por sete mulheres de conduta inapropriada.

“Vou sair agora, quando um homem que se orgulha de agredir mulheres sexualmente ocupa o Salão Oval”, acrescentou, referindo-se ao presidente republicano Donald Trump.

Muitos congressistas, homens e mulheres, consideram que o Congresso dos Estados Unidos se encontra em um momento de transição, no qual cada um deve adotar, sem a mínima margem de ambiguidade, uma política de tolerância zero com qualquer comportamento inadequado – ainda mais nos casos de assédio, ou de agressão sexual.

Por isso, na quarta-feira, em menos de 24 horas, 32 dos 48 senadores democratas pediram a saída de Al Franken. O movimento foi lançado por um grupo de senadoras, depois da revelação de um novo testemunho contra ele – o sétimo. Neste último, uma mulher contou que ele tentou abraçá-la à força em 2006, antes de ser eleito para o Senado.

“Vivemos uma enorme mudança cultural”, disse à AFP a senadora democrata pela Califórnia Dianne Feinstein, de 84 anos.

“Essas coisas que aconteciam, há anos, e pelas quais as mulheres tinham medo de agir, já não dão medo. As mulheres vão falar”, disse ela à AFP.

O Congresso ainda é, porém, uma instituição machista. As mulheres são, hoje, apenas 20% dos membros do Legislativo. Há 20 anos, eram apenas 12% e, há 30, 5%.

Nesse sentido, a senadora Kirsten Gillibrand foi clara: “Chega”, afirmou.

“O país precisa dessa conversa. É um erro estabelecer alguma diferença entre agressão sexual, assédio sexual, ou gesto fora de lugar. É preciso estabelecer uma linha vermelha e dizer que nenhum desses comportamentos é aceitável”, completou.

– ‘Ponta do iceberg’ –

O governador de Minnesota, Mark Dayton, estado representado por Franken na Casa, disse que espera anunciar sua decisão sobre a substituição do senador nos próximos dias.

Antes de ser eleito para o Senado em 2008, Franken foi uma das estrelas do programa Saturday Night Live nos anos 1970 e 1980, para depois seguir sua carreira como comediante, roteirista e locutor de rádio.

Foi nesse papel de comediante que ele tentou abraçar à força, em 2006, uma de suas colaboradoras no roteiro, durante uma viagem para estimular as tropas americanas no exterior. Já como senador também foi acusado de gestos inadequados com várias mulheres, enquanto tirava fotos com elas.

Franken não negou a maioria dos incidentes e multiplicou os sinais de arrependimento desde que surgiram as primeiras acusações, há três semanas.

Aceitou cooperar com a investigação da Comissão de Ética do Senado, que trata desse tipo de assunto e recomenda sanções, as quais podem ir de uma simples repreensão até a expulsão.

Seus colegas democratas não quiseram esperar as conclusões da comissão.

Um julgamento em praça pública, rápido e sem garantias? Não, respondeu a representante democrata Jackie Speier.

“Demonstrou um comportamento totalmente inaceitável, e se sabe que 70% das vítimas de assédio sexual não denunciam, porque temem perder seu trabalho. Portanto, provavelmente, isso é apenas a ponta do iceberg”, afirmou Jackie, em entrevista à rede MSNBC, nesta quinta.

Alguns, como o ex-presidente republicano da Câmara de Representantes Newt Gingrich, manifestaram sua preocupação com a possibilidade de que se esteja agindo de forma precipitada.

“Franken… 1.053.205 de eleitores de Minnesota o elegeram para o Senado em 2014, e 30 senadores que se autodenominam ‘puros’ querem tirá-lo. Como fica o sufrágio universal?” – tuitou.

Outro congressista democrata, o decano da Câmara de Representantes John Conyers, renunciou ao cargo na terça-feira, aos 88 anos. Ele é acusado de assédio sexual frequente de suas ex-colaboradoras.

Alguns democratas querem que os republicanos apliquem o mesmo rigor em suas fileiras. A queixa se dirige, sobretudo, a Roy Moore, um ex-juiz acusado de assediar menores nos anos 1970 e que pode, na próxima terça, ser eleito senador pelo Alabama.

“Al Franken reconheceu a dor que causou”, comentou hoje Tim Kaine, que foi vice na chapa da então candidata Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016.

“Roy Moore se negou a fazê-lo. De certa maneira, isso é pior”, afirmou.