Arrastada pelo escândalo de falência da empresa alemã de pagamentos on-line Wirecard, a gigante mundial de auditorias Ernst & Young (EY) vê sua reputação em xeque, devido às suas deficiências na verificação da contabilidade.

Processos já foram apresentados contra a consultoria, após a quebra, esta semana, do provedor de pagamentos eletrônicos, que emprega 6.000 pessoas.

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A associação de acionistas alemães SdK entrou com uma ação criminal contra dois auditores e contra um ex-auditor da EY na Alemanha.

Empresa cotada na Bolsa de Valores de Frankfurt e que se declarou em falência na quinta-feira, a Wirecard é suspeita de ter inflado suas contas com fundos fictícios nas Filipinas, algo da ordem de € 1,9 bilhão.

O ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, disse se tratar de um “escândalo sem precedentes no mundo financeiro” e garantiu que os controles no setor de pagamentos eletrônicos serão mais rigorosos.

Ninguém – nem os auditores, nem a Autoridade Federal de Supervisão Financeira do país (Bafin) – detectou o que estava acontecendo.

E isso apesar de, desde 2015, circularem boatos na imprensa sobre irregularidades no modelo econômico da Wirecard. No início de 2019, o jornal econômico britânico “Financial Times” chegou a publicar uma investigação sobre suspeita de fraude na Ásia.

Esta semana, o “Financial Times” acusou a EY de não fazer seu trabalho corretamente. Segundo o jornal, a EY não solicitou informações bancárias cruciais de um banco de Singapura, onde o Wirecard afirmou ter até € 1 bilhão em dinheiro.

As ações da Wirecard despencaram 98% nos últimos dez dias.

No início de junho, o escritório de advogados berlinense Schirp & Partner entrou com uma ação na Justiça contra a EY, acusando-a de violar “as obrigações de controle de um auditor”. O conglomerado japonês Softbank planeja fazer o mesmo, de acordo com a revista semanal “Der Spiegel”.

Questionada pela AFP, a EY disse que ainda não foi notificada.

Alguns comparam o “caso Wirecard” à queda da Enron, no início dos anos 2000. O grupo de energia americano, cujas contas foram supervisionadas pelo escritório de contabilidade da Arthur Andersen, deturpou seu saldo antes de afundar.

A Arthur Andersen foi processada e condenada por obstrução de Justiça, precipitando a queda da quinta maior empresa de auditoria do mundo.