A Eritreia admitiu, pela primeira vez, que tem tropas estacionadas na região de Tigré, na Etiópia, e prometeu retirá-las, em uma carta enviada na sexta-feira à noite (16) ao Conselho de Segurança da ONU.

No início de novembro de 2020, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, anunciou que estava enviando o Exército federal para Tigré, com o objetivo de prender e desarmar os líderes locais da Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF). Seu governo acusa estas forças de terem atacado acampamentos militares do Exército.

Neste embate, o Exército etíope contou com o apoio de tropas enviadas pela Eritreia, país fronteiriço com Tigré no norte, e da região etíope de Amhara, limítrofe com Tigré ao sul.

Abiy proclamou vitória em 28 de novembro passado, depois de seus soldados tomarem a capital regional, Mekele.

Os combates continuaram, porém, depois deste anúncio, e o Exército eritreu foi acusado de cometer massacres e abusos sexuais.

Por muito tempo, Adis Abeba e Asmara negaram a presença do Exército da Eritreia na região. No final de março, no entanto, Abiy Ahmed reconheceu essa presença e disse que estes soldados já estavam se retirando do território.

A carta da embaixadora da Eritreia na ONU, Sophia Tesfamariam, publicada na quinta-feira à noite (15) pelo Ministério eritreu da Informação, é o primeiro reconhecimento oficial por parte de Asmara da presença dos seus soldados no país vizinho.

Depois que as forças da TPLF foram “majoritariamente repelidas”, Etiópia e Eritreia “tomaram a decisão comum, no mais alto nível, de iniciar a retirada das tropas eritreias e a redistribuição simultânea de soldados etíopes na fronteira” entre ambos os países, disse a embaixadora na carta.

Na mesma quinta-feira, o secretário-geral adjunto das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, disse ao Conselho de Segurança não haver “qualquer prova” que confirme essa retirada.

“O pessoal humanitário continua informando sobre novas atrocidades que, segundo eles, são cometidas pelas Forças de Defesa da Eritreia”, afirmou.

Hoje, sábado, no Twitter, o ministro da Informação da Eritreia declarou que o governo de seu país convocou duas autoridades da ONU para protestar contra estes “informes falaciosos”.

Em sua carta, a embaixadora eritreia também nega a veracidade dessas informações.

Eritreia e Etiópia travaram uma guerra sangrenta entre 1998 e 2000, que deixou dezenas de milhares de mortos. À época, a TPLF controlava o governo federal em Adis Abeba.

Os dois países se aproximaram após a chegada de Abiy Ahmed ao poder em 2018, mas Eritreia e a TPLF continuam a ser inimigos ferozes.