O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, encontrava-se nesta sexta-feira (28) em situação desconfortável em relação à Síria, após a morte de 33 soldados turcos na província de Idlib, sendo difícil chegar a uma situação favorável, uma vez que o regime sírio é apoiado pela Rússia.

A Turquia pode ter lançado violentas represálias contas as forças do regime de Bashar al-Assad, mas se arriscará muito caso entre em uma disputa de poder a longo prazo, precisando de um apoio ocidental decidido.

Como tentativa de obter mais apoio da União Europeia frente a Rússia, Erdogan usou novamente o argumento dos refugiados.

A Turquia anunciou que não impedirá os migrantes que tentarem chegar à Europa passando pela Turquia, trazendo à memória a grave crise migratória de 2015.

“A Turquia não tem nem meios militares ou recursos humanos para continuar a disputa de poder que ocorre em Idlib”, considera Jana Jabbour, especialista em Turquia na Sciences Po, em Paris.

Além do aspecto militar, Erdogan deve levar em conta a opinião pública em seu país, “que pode ir contra ele se o número de soldados turcos mortos na Síria aumentar”.

“A ameaça de abrir as fronteiras da Europa aos migrantes é uma forma muito eficaz de pressionar a UE, pois o fluxo adicional de refugiados seria um pesadelo”, alerta Janna Jabbour.

A recente escalada em Idlib, último reduto sírio controlado pelos rebeldes pró-Turquia e extremistas, repercutiu no entendimento entre a Turquia e a Rússia, que cooperavam desde 2016 para que os combates na região chegassem ao fim, apesar dos diferentes interesses.

– “Nenhuma opção conveniente” –

Após ter pedido, em vão, a retirada dos sistemas de defesa americanos Patriot do seu território, a Turquia convidou a comunidade internacional nesta sexta-feira a instalar uma zona de exclusão aérea no noroeste da Síria, como forma de impedir os aviões do regime sírio e seu aliado russo de realizar bombardeios.

Os representantes dos países membros da OTAN se reuniram com urgência nesta sexta, a pedido da Turquia, por causa do artigo 4 do tratado, esse que pode ser reivindicado por um aliado desde “que considere que sua integridade territorial, sua independência política e a sua segurança estão sob ameaça”.

Logo após a reunião, os membros da Aliança não anunciaram nenhuma medida concreta, limitando-se a expressar sua solidariedade com a Turquia.

Segundo Sinan Ulgen, diretor do centro de deliberação de Edam, em Istambul, a Turquia tem poucas possibilidades de obter o apoio militar da OTAN, já que ela se aproximou da Rússia e comprou o seu sistema de defesa antiaéreo S-400.

Ulgen considera que a Turquia não dispõe de nenhuma “opção conveniente” na Síria, e ressalta que os bombardeios do regime nesta quinta “mostraram a vulnerabilidade do posicionamento turco, ao não ter superioridade aérea”.

“Em outras palavras, as tropas turcas seguem expostas a ataques aéreos como os de ontem”, acrescentou.

Neste contexto, a Turquia poderia, segundo Ulgen, se ver obrigada a aceitar um acordo com a Rússia para manter apenas o controle de uma “pequena zona ao longo da fronteira turca na qual se acumularão as tropas turcas e cerca de um milhão de desabrigados sírios”.

“Erdogan está confrontando decisões muito difíceis que incluem riscos maiores”, indica Yezid Sayigh, investigador no Carnegie Middle East Center.

“Não pode responder aos ataques diretos do regime, mas ao mesmo tempo tem que evitar se distanciar muito do confronto”, acrescentou.

O conflito atual “é provavelmente uma tática de negociações de alto risco que conduzirá a um novo entendimento russo-turco sobre a região de Idblib”, considera.

“Não penso que haverá uma guerra geral ou que a Turquia se aproximará da OTAN”, finalizou Sayigh.