As financeiras costumam ser vistas no mercado como as primas pobres dos bancos. Elas são malvistas, malfaladas e, em geral, atendem a uma clientela de baixa renda, do subúrbio. O que poucos sabem é que elas estão ganhando mais dinheiro que suas parentes ricas. Segundo a ABM Consulting, as financeiras tiveram rentabilidade média de 33,5% no ano passado, patamar comparável somente ao dos bancos no início dos anos 90, quando faturavam com a indústria da inflação. Por isso, vêm despertando o interesse de potenciais compradores. Entre as campeãs está a Crefisa, com rentabilidade de 66,5% sobre o patrimônio líquido, e a Fibra, do empresário Benjamin Steinbruch, com 47,2%. Em seguida vem a Ficsa, com 45%, seguida pela Cacique, com 41,3%. A rentabilidade média dos bancos foi 20,5%.

?As financeiras são máquinas de fazer dinheiro porque seus clientes arcam com spreads enormes?, diz o consultor Alberto Matias, da ABM. Segundo o Banco Central, a diferença entre o custo de captação e o valor pelo qual o dinheiro é emprestado é de 47,8%, em média, no crédito para pessoa física (contra 19% para pessoa jurídica). A Losango, adquirida pelo Lloyds em 1997, foi responsável por quase a metade do lucro do grupo inglês no Brasil. No ano passado, o Unibanco pagou R$ 480 milhões pela fatia que a família Almeida Braga, do Icatu, detinha na maior financeira do Brasil, a Fininvest. O mesmo Unibanco e o Santander estão assediando a financeira da rede Ponto Frio, enquanto o Panamericano, do grupo Sílvio Santos, está investindo pesado na abertura de novas lojas. O banqueiro Aloysio Faria, dono do Alfa e ex-dono do Real, farejou o potencial do negócio e decidiu abrir, no ano passado, a Alfa Financeira.

?Essas empresas são um fenômeno pós-Plano Real. Elas quase não existiam na época de inflação alta. Com a estabilização da economia, essa indústria virou uma mina de ouro?, diz Moisés Jardim, diretor-financeiro da Fináustria, empresa do banco BBA que conta com uma carteira de crédito de R$ 950 milhões, o equivalente a 20,3% da carteira de crédito total do grupo BBA. A Fináustria, especializada no financiamento de automóveis, prevê que o volume de financiamentos cresça 20% este ano. ?Quantos setores na economia prevêem crescer tanto??, diz Matias. O controle da inflação fez com que os consumidores passassem a pensar mais no longo prazo e se endividassem mais. No início dos anos 90, o brasileiro devia, em média, menos de um mês de salário. Hoje, deve-se em média dois meses de contracheque. ?E ainda há muito espaço para crescer. Basta dizer que o americano deve, em média, um ano de sua renda?, diz Jardim.

O público que em geral recorre a financeiras é composto por pessoas que tiveram crédito recusado em bancos. Ou pior, são pessoas que nem conta em banco têm e pagam caro por isso. Para contrair dívidas, precisam pagar taxas de juros altíssimas. Um estudo da Austin Asis mostra que as classes D e E são as de maior rentabilidade do sistema financeiro, pagando taxas médias de 18,5%. Em segundo lugar vêm os bancos de tesouraria, que faturavam muito na época de inflação alta e hoje acumulam rentabilidade de 13,2%, mesmo nível dos (quem diria!) bancos públicos.

O recente aumento das taxas básicas de juros, que saltaram de 15% para 15,75% em menos de dois meses, deverá reduzir a oferta de crédito nos próximos meses. ?A inadimplência já está dando os primeiros sinais de crescimento?, diz Matias, lembrando que no mês de março a emissão de cheques sem fundos atingiu recorde histórico. ?As financeiras terão que investir muito dinheiro em sistemas de controle do risco, para conceder crédito de forma inteligente?, afirma.