Um dos maiores impactos do isolamento social decorrente da pandemia foi o aumento de pedidos e entregas de produtos, tanto em domicílio quanto em toda a cadeia de suprimentos. Atender a uma demanda recorde exigiu das empresas de logística aprimorar os processos que garantem agilidade e eficiência no transporte de mercadorias. A digitalização se mostrou o grande aliado do setor neste momento delicado da economia mundial — que tem exigido uma rápida adaptação, com soluções inovadoras. Inteligência Artificial, IoT, QR code, realidade aumentada e softwares avançados nunca foram tão decisivos para garantir o fluxo global (e local) de despachos e entregas. Agora, somam-se a esse arsenal os veículos autônomos, drones e robôs. “Estamos em fase de transição. Essa vivência vai acelerar demais. O digital vai ficar onipresente”, diz Angela Maria Gheller Teller, diretora de produto e ofertas no segmento de manufatura, logística e agroindústria da Totvs, empresa de softwares que tem auxiliado companhias a buscar alternativas para se manter e até crescer na crise provocada pela Covid-19. “As soluções têm de ser simples e precisam gerar rapidez e agilidade”, diz a executiva da empresa que em 2019 faturou R$ 2,28 bilhões.

Reduzir os custos e aumentar a eficiência é o desafio. Principalmente agora, quando a demanda por envio de produtos na casa do consumidor tem aumentado. Pesquisa realizada pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) mostra que 61% dos consumidores que fizeram compras on-line aumentaram o volume de pedidos devido ao isolamento social. O impacto na logística foi inevitável. Segundo o levantamento, 70% dos consumidores perceberam prazos de entregas mais elásticos. Isso fez a cadeia se movimentar em busca de melhores práticas e resultados. Em especial na chamada última milha (last mile), geralmente o passo mais caro proporcionalmente, pois conta com fatores de risco colmo quebra de produtos e extravio. Em busca de competitividade e de atrair clientes, as empresas correm para encurtar o tempo. Na preferência do consumidor, quem entrega de 24h a 72h sai na frente.

AGILIDADE Para a diretora de produto no segmento de logística da Totvs, Angela Maria Gheller Teller, as soluções devem ser simples e entregar rapidez. (Crédito:Divulgação)

O setor de logística no Brasil movimenta R$ 912,5 bilhões por ano, incluindo transporte, armazenagem estoque e serviços administrativos. Representa 12,5% do PIB, segundo a Abralog (Associação Brasileira de Logística). Um peso importante na economia brasileira, com duas interpretações distintas, para o bem e para o mal. Pelo lado positivo, faz o País se movimentar, garante o abastecimento e gera emprego e renda. Pelo lado negativo, é alto o custo na engrenagem econômica, se comparado aos Estados Unidos, por exemplo, onde o setor custa aproximadamente 8% do PIB.

Com olhar focado em melhorar a experiência de compra das pessoas, o Mercado Livre, maior comunidade de compra e venda on-line da América Latina, ampliou a parceria com a startup Picap. A atuação conjunta já ocorria na Colômbia e chegou ao Brasil. A ideia é intensificar o serviço do Envio Flex como forma de dar maior dinamismo ao crescente serviço de delivery no País, especialmente ao micro, pequeno e médio empreendedor. Esse segmento sente que falta interesse de empresas de entrega de grande porte, devido ao menor volume de encomendas. A expectativa da nova parceria é alcançar 100 mil entregas até setembro. O serviço usa algoritmos para efetuar roteirização eficiente e reduzir gastos, além de disponibilizar tracking compartilhado entre cliente e vendedor, para rastreamento de todas as pontas do processo em tempo real. “A tecnologia nos ajuda a resolver a logística e fazer entregas de forma rápida”, afirma o CEO da Picap, Diogo Travassos.

PRAZOS Para 70% dos consumidores, a pandemia retardou entregas, o que fez toda a cadeia se movimentar em busca de melhores práticas e resultados. (Crédito:Istock)

Na mesma esteira atua a plataforma Eu Entrego, que possui a maior rede de entregadores autônomos do Brasil e os conecta a redes varejistas por meio do sistema crowdshipping. A entrega de produtos é feita por pessoas comuns, cadastradas ao aplicativo, que se oferecem para realizar o serviço usando seus próprios meios de transporte. A startup trabalha no processo ship from store, de coleta do produto no estoque de uma loja física para atender aos pedidos realizados em algum canal virtual e entrega no domicílio do cliente. Esse modelo, que evita a saída do produto direto do centro de distribuição, já representa 15% das entregas de grandes redes atendidas pela plataforma. A demanda aumentou 400% no período de pandemia. Agora, são 200 mil entregas por mês. A empresa investe em cruzamento de dados para obter melhores trajetos, mapeamento de áreas de risco e até clima e temperatura, para usar os meios de entrega e caminhos mais adequados. “De virtual, a logística não tem nada, é real. Mas o uso da tecnologia para melhorar os processos é um caminho inevitável, sem volta”, afirma o CEO da Eu Entrego, Vinicius Pessin.

Muitas ferramentas tecnológicas estão em pleno funcionamento. Outras estão em testes ou presentes em poucos lugares do mundo, como drones, robôs de entregas em curtas distâncias e carros autônomos. Os drones, por exemplo, já são realidade nos Estados Unidos e China. A Wing, empresa de delivery da Alphabet, está voando. Amazon e UPS decolarão em breve. No Brasil, existem muitos testes. Mas, atualmente, não há nenhuma empresa autorizada a realizar entregas com esse equipamento, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que estipula uma série de regras para uso de drone, inclusive para entretenimento e lazer. O órgão afirma que acompanha o desenvolvimento do produto “para determinar a existência de condições técnicas para a realização pelo requerente das operações pretendidas de uma forma segura”.

“De virtual, a logística não tem nada. Ela é real. Mas o uso da tecnologia para melhorar os processos é inevitável” Vinícius Pessin, Ceo da Eu Entrego.

Todas as ferramentas tecnológicas usadas hoje abastecem essas inovações que estarão em plena atividade em um futuro próximo. “Não está tão longe. É uma evolução natural. O futuro da mobilidade logística está no tripé formado pelos apps delivery, nas montadoras e na robótica”, afirma Vinicius Pessin. O futuro é logo ali.

Pedágios ganham nova forma de pagamewnto

A pandemia acelerou a implementação de pagamentos de pedágio pela tecnologia Near Field Communication (NFC) em dois sistemas rodoviários administrados pelo Grupo EcoRodovias no Estado de São Paulo: Anchieta-Imigrantes, gerido pela Ecovias, e Corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto, operado pela Ecopistas. A solução permite transação financeira sem utilização de senha, apenas por aproximação entre os dispositivos compatíveis, como cartões de débito ou crédito ou ainda relógios, pulseiras e celulares. Não há custo adicional ao motorista. Seria implementado aos poucos até o fim do ano. Mas foi antecipado e funciona em caráter experimental autorizado pela Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp). “A chegada do coronavírus no Brasil acelerou o ritmo das mudanças relacionadas aos meios de pagamento na economia em geral”, afirma Alberto Lodi, diretor de Concessões Rodoviárias da EcoRodovias.

Divulgação

O NFC é um sistema intermediário entre as duas possibilidades já existentes nas cabines de pedágio: dinheiro ou cobrança automática, por tags. Os pagamentos por aproximação já representam 2% do total registrado nas praças de pedágio do Grupo EcoRodovias. As cabines são identificadas com o símbolo universal de aproximação (semelhante ao sinal de internet wi-fi). A adesão vem crescendo dia a dia, diz a empresa. Cerca de 50% dos usuários das vias controladas pela companhia utilizam sistemas de pedagiamento eletrônico, disponível nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, além da Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro.

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