Jimmy Muñoz acaba de se entregar à polícia fronteiriça dos Estados Unidos após cruzar o rio Bravo, vindo do México. Sua silhueta surge no horizonte, em meio a uma planície verde. Agora, ele caminha em direção a um posto de controle, onde seu destino será decidido.

“Tenho a esperança de poder ficar nesse país”, disse o equatoriano de 29 anos. “Mas estou com dúvidas e medo de que me aceitem”, acrescenta, enquanto aponta para um toldo de cor laranja a aproximadamente 300 metros de distância, onde se vê uma multidão.

Embora já se encontre em solo americano, próximo à cidade de Brownsville, no Texas, ele tem à sua frente uma cerca de arame farpado, e, em seguida, uma grade metálica de aproximadamente 4 metros de altura.

Em Brownsville, o fluxo de migrantes que cruzam a fronteira a partir da cidade mexicana vizinha de Matamoros não para. Nas imediações, veículos militares estão posicionados.

Assim como Jimmy Muñoz, milhares de imigrantes têm se entregado às autoridades nas últimas semanas, temerosos de que a mudança nas normas fronteiriças dos Estados Unidos, prevista para a meia-noite de quinta-feira, possa complicar sua entrada no país, segundo seus próprios relatos.

A maioria deles é venezuelana, mas também há outros latino-americanos e asiáticos.

– Passar ou não passar? –

Nos postos de controle, as autoridades separam os homens das mulheres e os enviam para diferentes centros de processamento.

“Quando nos prendem, nos tratam bem. Levam a gente para uma cela, nos dão comida, e começa um processo de perguntas, dos testes (mostras) de DNA, um processo rotineiro para imigrantes, imagino. Depois disso é que libertam alguém”, explica Rossi Carrillo, de 26 anos, no centro de Brownsville.

“Dão para nós um papel para uma audiência com o juiz [que irá decidir se é possível permanecer ou não no país]. A minha marcaram para dentro de um ano”, acrescenta Rossi, que veio da Venezuela e passou a noite próximo à rodoviária de Brownsville.

Alguns serão convocados dentro de poucos meses, outros, porém, só daqui a três anos.

A AFP conversou com vários imigrantes que foram autorizados a entrar. Todos receberam o nome, o contato e o endereço do familiar ou amigo que os esperam nos Estados Unidos. Rossi e seu esposo são aguardados em Atlanta, na Geórgia.

José Luis Aular, um venezuelano de 38 anos, disse que as autoridades pediram para que ele baixasse um aplicativo para rastrear sua localização. Recorrentemente, deve tirar um foto no local do país onde está e enviar pelo aplicativo.

Entre outubro de 2022 e março de 2023, mais de 200 mil pessoas foram processadas no Texas sob o Título 42, uma norma sanitária ativada no mandato de Trump por causa da covid-19, que permite expulsar quem cruza a fronteira sem aceitar suas exigências imigratórias. Esse dispositivo será suspenso na quinta-feira (11).

Nesse mesmo período, aproximadamente 453.000 pessoas foram processadas no Texas sob o título 8, uma norma migratória específica que permite solicitar asilo, mas também autoriza a expulsão, ainda que não sumária, mas acelerada.

O Título 8 é temido pelos imigrantes, porque alguém expulso sob essa normativa pode ser punido penalmente ou proibido de solicitar a entrada legal nos Estados Unidos por cinco anos.

– “Coisas de Deus” –

Nesta quarta-feira (10), a polícia fronteiriça americana deu uma advertência clara: quem tentar entrar ilegalmente “continuará sendo expulso para o México ou para o seu país de origem”.

“Aqueles imigrantes que não puderem ser expulsos sob o Título 42, e que não têm uma base legal para permanecer nos EUA, serão colocados em processos de deportação sob o Título 8”, afirmou em uma mensagem divulgada em espanhol nas redes sociais.

Rossi Carrillo alegra-se de ter conseguido entrar. “Foram coisas de Deus, porque nem todo mundo tem a mesma sorte. Há mulheres com crianças que foram devolvidas”, disse.

“Meu sonho era estar aqui e a segunda meta é trazer meus filhos e minha mãe”, assegura.

Ela carrega nos braços Niña, uma cachorrinha que a acompanhou em sua viagem por oito países, incluindo a floresta de Darién, entre a Colômbia e o Panamá.

“Cruzou a floresta caminhando, saiu suja, nadava nos rios, a mantivemos apenas com soro porque a comida acabou”, conta. A cadelinha foi confiscada, mas logo foi recuperada com a ajuda de uma fundação.

Ainda na linha fronteiriça, Jimmy Muñoz conta por que deixou o Equador: “Viemos fugindo, querem nos matar. Não posso ter um negócio, porque nos extorquem. Me sinto bem em ter cruzado” a fronteira.