Patas de velociraptor, pescoço de cisne e asas de pinguim: pesquisadores revelaram a existência de uma nova espécie de raptor “muito estranha”, que vivia na terra e na água, algo até então inédito para um dinossauro.

“Devemos imaginar uma mistura entre um velociraptor, um avestruz e um cisne com o focinho de um crocodilo e asas de pinguim”, descreve à AFP Paul Tafforeau, paleontólogo do Synchrotron Europeu de Grenoble (ESRF), coautor do estudo. “Era um pouco extraterrestre”, acrescenta o pesquisador.

O surpreendente pequeno predador, batizado de “Halszka” para Halszkaraptor escuilliei, viveu na Mongólia, no período Cretáceo, cerca de 72 milhões de anos atrás, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature.

“Halszka” pertence à família dos dromeossauros, compartilhando a linhagem com o velociraptor, o predador assustador dos filmes Jurassic Park.

Tinha uma cauda, ​​mas em uma versão mais curta, e patas traseiras. “Patas de bípedes que faziam com que pudesse correr”, disse o pesquisador.

Ele também herdou a famosa “garra assassina”, uma garra na pata traseira muito desenvolvida que permitia a todos os dromeossauros degolar suas presas.

Mais estranho: este pequeno dinossauro de cerca de 1,20 m também tinha algumas características dos predadores aquáticos – dentes e um focinho de crocodilo e um pescoço muito longo, semelhante ao do cisne.

– Exportado ilegalmente –

De acordo com os pesquisadores, o animal, em emboscada, dobrava-se em S e projetava-se muito rapidamente, boca aberta, na passagem de peixes.

“Halszka também era capaz de correr e caçar em terra, ao mesmo tempo que podia nadar e pescar na água”, resume Paul Tafforeau. Algo inédito para os dinossauros.

“Nós conhecemos dinossauros que comiam peixe, especialmente o espinossauro (aquele que mata o tiranossauro no Jurassic Park 3), mas não acreditávamos que ele pudesse nadar”, disse o pesquisador.

Esta descoberta foi possível graças às técnicas desenvolvidas no ESRF. A microtomografia de múltiplas resoluções por raio-x revelou as partes do esqueleto ainda enterradas no coração da rocha.

A equipe internacional responsável pelo estudo há muito acreditava que o fóssil fosse falso, “já que parecia muito com uma quimera”. Além disso, sua vida agitada incita desconfiança.

“Halszka, que foi exportado ilegalmente da Mongólia, passou por coleções privadas em todo o mundo antes de ser adquirido em 2015 e oferecido aos paleontólogos para estudo”, diz Pascal Godefroit do Royal Belgian Institute of Natural Sciences em comunicado do ESRF.

“Passamos muito tempo tentando provar que era uma falsificação, mas não conseguimos”, diverte-se Paul Tafforeau.

Para acabar com a polêmica sobre a autenticidade do fóssil, os pesquisadores decidiram tornar público todos os dados coletados. “Este é o fóssil em que mais realizamos experiências”, garante Paul Tafforeau.

Todos os antepassados ​​de Halszka são animais terrestres “aptos a correr e saltar”. Hoje, é o único representante de “uma forma terrestre que se adapta ao ambiente anfíbio”.

Mas essa espécie não teve tempo para continuar sua evolução. Sete mil anos após Halszka surgir, os dinossauros desapareceram da superfície terrestre.