Em 2022, a Tesla perdeu a assustadora cifra de dois terços de seu valor de mercado, vítima dos temores sobre a demanda de veículos elétricos, da consternação pelas atribulações do magnata Elon Musk como novo diretor do Twitter e do fim do dinheiro fácil em Wall Street.

Tudo caminhava bem com as ações da fabricante de veículos elétricos, que superou os problemas de abastecimento e obteve um lucro de quase 9 bilhões de dólares nos três primeiros trimestres do ano, apesar das despesas muito altas.

Mas o desenvolvimento tem sido mais lento que o ritmo vertiginoso de crescimento exigido por Musk, que ambiciona tornar a Tesla a empresa mais valiosa do mundo.

Em um fórum realizado no Twitter, o próprio Musk reconheceu que não podia “falar coisas boas o suficiente” sobre a companhia, culpando as “condições macroeconômicas” gerais e as altas taxas de juros aplicadas pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). Além disso, pediu aos presentes que ignorassem suas desventuras no comando do Twitter.

Para alguns analistas, no entanto, os problemas com os quais a Tesla deverá se deparar são mais sérios do que os do Twitter, principalmente porque os dias como único ‘player’ no mercado de veículos elétricos ficaram para trás.

O novo ano “perfila-se como um ano de ‘recomeço’ para o mercado de veículos elétricos”, inundado pela oferta, disse o analista Adam Jonas do Morgan Stanley em nota.

“Há obstáculos a superar”, afirmou, citando o aumento da concorrência, na medida em que os fabricantes tradicionais vêm lançando novos modelos a um ritmo sem precedentes, e a piora da economia americana, com alto custo de vida e inflação.

Apesar de a companhia de Musk ter conseguido arrebanhar 65% da participação de mercado nos primeiros nove meses de 2022, os analistas do S&P Global preveem que sua participação cairá para apenas 20% em 2025.

A Tesla, no entanto, ainda mantém um grupo de admiradores fervorosos – em parte devido ao comportamento de celebridade de Elon Musk – e é considerada indiscutível em termos de tecnologia, gestão de custos e escala em um mercado de crescimento exponencial.

Mas toda essa competência está agora sob a sombra do Twitter, a rede social comprada por Musk por 44 bilhões de dólares e cuja gestão tem sido alvo de controvérsias, principalmente depois que ele decidiu demitir mais da metade de seus funcionários.

Além disso, Musk vendeu bilhões de dólares em ações da Tesla para bancar sua aventura na nova empresa.

É “insustentável” separar o futuro da Tesla da gestão errática do Twitter por Elon Musk, opina Colin Rusch, da consultoria financeira Oppenheimer.

Os eventos no Twitter são “muitos para que a maioria dos consumidores continue apoiando Musk e Tesla”, acrescenta, ao prever que as estripulias do bilionário farão com que alguns consumidores passem a buscar outras marcas.

O fiasco em Wall Street acontece depois de as ações da Tesla se valorizarem mais de 700% em 2020 e cerca de 50% em 2021. Mesmo tendo se recuperado nos últimos dias, a empresa continuava registrando nesta quinta-feira (29) uma perda de 65% de seu valor em comparação com o início de 2022.