A estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, morta por balas perdidas enquanto praticava educação física na escola municipal Daniel Piza, em Acari (zona norte do Rio), na tarde de quinta-feira (30), foi enterrada às 13h10 deste sábado (1) no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita (Região Metropolitana do Rio). Em meio a grande comoção, familiares acusaram a polícia de ter dado os tiros e cobraram providências do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Mais de 200 pessoas, em sua maioria familiares, professores e colegas de Maria Eduarda, foram ao velório. Os colegas de escola vestiam camisetas em homenagem à adolescente. Em vários momentos, familiares e amigos foram retirados do ambiente do velório para conter a desolação. Duda, como a adolescente era chamada, foi sepultada aos gritos de “justiça”.

Embora a autoria dos disparos ainda não tenha sido esclarecida – só a perícia poderá indicar de qual arma partiram os tiros -, a revolta com a polícia era comum. “O que a polícia fez com meu bebê, acabaram com uma menina cheia de sonhos”, acusou a mãe de Maria Eduarda, a acompanhante de idosos Rosilene Alves, de 52 anos, muito abalada. “Pezão tem que ouvir a gente, mas ele não está nem aí, e o secretário dele está nos Estados Unidos, não estão nem aí com o povo das comunidades. Mas aqui se faz, aqui se paga”, continuou.

Um dos irmãos de Maria Eduarda, o instrutor de luta Uidson Alves, de 32 anos, leu uma carta pedindo mudanças na política: “Maria Eduarda estava dentro de uma escola buscando um futuro melhor. Este é o futuro melhor para nossas crianças? Serem mortas covardemente, enquanto estudam? De onde partiram os tiros? Os tiros partem quando ignoramos os mais humildes. Os tiros partem quando o Estado não prepara a polícia. Os tiros partem quando o Estado é corrupto e desvia o dinheiro que seria empregado para melhor a segurança e a educação. Governantes, tenham mais vergonha na cara. Inocentes estão clamando por paz”, afirmavam trechos da mensagem.

O advogado João Tancredo anunciou que vai ingressar com ações judiciais contra o Estado e o município cobrando indenização à família pela morte de Maria Eduarda e oferecimento de apoio psicológico aos familiares. Segundo ele, não importa se os tiros partiram de policiais ou criminosos. “O Estado tem o dever de orientar seus policiais, e a Prefeitura precisa garantir a segurança das pessoas dentro de seus imóveis”, afirmou.

Fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa também compareceu ao enterro e lamentou o episódio. “Já são três crianças mortas por bala perdida neste ano na região metropolitana do Rio. Foram 20 nos últimos dois anos, e 33 em 10 anos”, afirmou. “É pobre matando pobre, policial pobre matando traficante pobre, bandido pobre matando policial pobre, isso precisa mudar”, continuou.

Blindagem. O prefeito Marcelo Crivella (PRB) anunciou a intenção de blindar as escolas municipais, mas ainda não há detalhes sobre essa hipótese.