A expressão “dores do crescimento” descreve um efeito colateral indesejado (sentir dor) para algo positivo (crescer). Isso ocorre, segundo especialistas, devido à fadiga muscular que acomete  crianças e adolescente (a maior incidência é por volta dos 12 anos) após um dia de atividades físicas intensas. Voltar à atividade no dia seguinte é normal. A dor passa e não há nada que impeça a criança de correr, saltar e se divertir. Sentir essas dores e não crescer, contudo, indica que há algo errado.

Depois de um ano e meio sob os efeitos da pandemia, o desejo de todos que sobreviveram, ainda que com algum desconforto, é de retomar a vida como era antes. Especialmente nos negócios. Se a vontade de quem teve de ficar recluso para se proteger da Covid agora é voltar a sair de casa, viajar, fazer compras, como uma criança que brinca feliz , a notícia ruim é que todo esse movimento que ficou represado será insuficiente para permitir que a economia salte ou avance de modo acelerado. É o que mostram os principais indicadores de crescimento.

Um deles é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que o mercado considera uma prévia do PIB e sobre o qual sempre reside grade expectativa. O dado mais recente se refere a maio, quando houve queda de 0,43%, frustrando quem esperava alta na casa de 1%. Para quem atribui o IBC-Br negativo à explosão dos casos de Covid no início do ano e à volta das medidas de restrição, a perspectiva é desoladora. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para o risco da variante delta, que elevou em 80% o número global de casos nas últimas quatro semanas. Nos EUA, a média de novos casos diários superou 100 mil na semana passada, algo que não ocorria desde o dia 11 de fevereiro.

O cenário externo e as previsões ruins para retomada global impactam diretamente no que pode ocorrer com o Brasil. Isso se já não bastassem os problemas causados pelo próprio governo, caso da tentativa de imposição do voto impresso por Bolsonaro e do desgaste que essa ameaça ao processo eleitoral impõe na relação com o Legislativo e o Judiciário. Apenas para ficar no Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, a previsão de crescimento do PIB brasileiro para 2022 está em 2,1%. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), a aposta é ainda menor: 1,9%. Quase nada para uma economia que vem andando de lado há uma década, quando ficou abaixo de todos os países emergentes. E ainda pior para quem esperava recuperar a perda de 4% de 2020 crescendo ao menos 5% neste ano. Esse crescimento não virá, mas nem por isso estaremos imunes à dor.

A alta da taxa básica de juros, a Selic, de 4,25% para 5,25% na semana passada foi defendida pelo Banco Central como necessária para enfrentar uma “inflação persistente”. Além da alta da inflação e dos juros (medida que foi criticada por entidades como a Fiesp), o Brasil enfrenta sua pior seca em ao menos um século. A falta de água tem impacto direto na agricultura e na geração de energia. Com os níveis de reservatórios mais baixos, cai a produção de eletricidade e a conta de luz sobe. Também pode faltar água nas torneiras, obrigando governos a adotar medidas de racionamento.

A Covid-19, que já matou 560 mil brasileiros, é uma tragédia de dimensões ainda difíceis de calcular, tanto do ponto de vista sanitário quanto econômico. Ela demanda gastos extraordinários do governo enquanto reduz a geração de riqueza. Mas não é só a Covid que tem causado dores ao Brasil. Vivemos um quadro de dificuldades que deteriora as previsões de futuro. Crescer nessas condições não será fácil.