Na segunda-feira (16), a China divulgou dados econômicos referentes a abril. As vendas no varejo e a produção industrial foram muito piores do que os analistas esperavam. Mesmo considerando que áreas importantes do país  enfrentaram períodos de lockdown até agora, os resultados foram considerados ruins pelo mercado.

As vendas no varejo caíram 11,1% em abril em relação ao ano anterior. A projeção era de uma queda de 6,1%. Já a produção industrial caiu 2,9% ante 2021. As expectativas eram de um leve aumento de 0,4%. Para piorar, a produção de máquinas e equipamentos e de veículos caiu 4,6%.
Dólar tem queda alinhada ao exterior com perspectiva de alívio em restrições na China

A produção de automóveis caiu 41,1% em abril na comparação anual. O setor automotivo na China responde por cerca de um sexto dos empregos e de 10% das vendas no varejo. Isso significa um golpe muito forte na economia.

Segundo o Departamento Estatal de Estatísticas, versão chinesa do IBGE, as causas foram a volta das restrições devido à Covid, demanda fraca e aumento nos custos. As restrições aplicadas em abril, principalmente na região de Xangai, forçaram as fábricas a fechar ou operar com capacidade limitada.

A taxa de desemprego nas 31 maiores cidades da China subiu para 6,7% em abril. Entre os jovens com idade de 16 a 24 anos, o índice foi quase três vezes maior: 18,2%. O “ambiente internacional cada vez mais sombrio e complexo e o maior choque da pandemia de Covid-19 em casa obviamente superaram as expectativas, novas pressões para baixo sobre a economia continuaram a crescer”, dafirmou o Departamento Estatal de Estatísticas em um comunicado.

Números ruins para a China, mas qual a importância deles para a sua vida, aqui no Brasil? Enorme.

A China é um consumidor voraz das commodities que o Brasil produz, em especial minério de ferro e soja, e um grande fornecedor de tudo o que você possa imaginar para os Estados Unidos, outro grande comprador dos produtos brasileiros.

Dados ruins na China indicam uma atividade mais fraca da economia americana, o que é um sinal claro de menor dinamismo econômico em todo o mundo. Isso mostra que os riscos de um retração global da economia estão maiores.

O real é uma das moedas com a maior sensibilidade à China. Um cenário de alta dos juros nos Estados Unidos fortalece o dólar em relação às demais moedas. E, nesse ambiente, uma queda nas compras de commodities brasileiras pela China amplifica esse movimento.

É simples entender o porquê. A taxa de câmbio é o preço de uma moeda em relação à outra. A relação de troca entre o dólar e o real depende da oferta e da demanda da moeda americana. Com exportações brasileiras menores, a oferta de dólares diminui e seu preço aumenta. Passa a ser preciso gastar mais reais para comprar um dólar. E isso pressiona a inflação e obriga o Banco Central (BC) a manter os juros elevados por mais tempo.

A próxima variável a ser observada atentamente é o ritmo das economias chinesa e americana. Uma retração sustentada da atividade terá consequências graves para a economia brasileira.