Enquanto o mercado prevê uma recuperação mais firme do PIB neste ano, os economistas do Itaú Unibanco identificaram mudanças de cenário que resultarão num crescimento mais baixo. A previsão do banco foi revisada de 2,5%, em dezembro, para 2%. Como comparação, os dados mais recentes do boletim Focus do Banco Central, que reúne projeções de cerca de cem bancos e consultorias, indicam crescimento de 2,5%.

Há um conjunto de fatores, internos e externos, que fundamentam a revisão. São eles:

1-) O MUNDO DESACELERA

Um acirramento da guerra comercial, somado a turbulências na Europa, desaceleração da China, e riscos nos Estados Unidos, colocaram o mundo em estado de apreensão e provocam uma freada de ritmo no crescimento global neste ano. Depois de atingir um pico de alta de 3,8%, em 2018, o PIB mundial deve encerrar 2019 com um avanço de 3,4%.

Há riscos de uma piora ainda maior caso se confirmem eventos extremos como um rompimento abrupto do Reino Unido da União Europeia. Embora o Brasil seja uma economia ainda bastante fechada, acaba sendo afetado, por exemplo, com um preço de commodities mais baixo.

Impacto sobre o PIB brasileiro: 0,1 ponto percentual

2-) CLIMA

A seca registrada no final do ano passado em regiões de plantio de soja deve comprometer a colheita da safra 2018/2019 em 3%, segundo estimativas da Conab. Somado a isso, há ainda o custo mais elevado de energia com um maior acionamento de usinas térmicas, como consequência das chuvas aquém do previsto.

Impacto sobre o PIB brasileiro: 0,1 ponto percentual

3-) ATIVIDADE MORNA E HERANÇA MENOR

Dados do quarto trimestre de 2018 sugerem que a atividade decepcionou na virada do ano. O Itaú Unibanco prevê estagnação no PIB trimestral e um crescimento de apenas 1,1% no ano passado, praticamente o mesmo nível observado em 2017 (1%), quando a economia ainda se recuperava da recessão. Na previsão de dezembro, o Itaú Unibanco estimava em 1,3% o crescimento de 2018.

Quando o crescimento do ano anterior é mais baixo, a base para o PIB do ano corrente também passa a ser inferior, um efeito estatístico que compromete as previsões. Há ainda a percepção de que o ritmo da atividade continua modesto. “Nada sugere grande aceleração do crescimento no primeiro trimestre”, afirma Artur Manoel Passos, economista do Itaú Unibanco.

A combinação de um ritmo mais fraco do início do ano com a herança mais baixa de 2018 provocará uma frustração estimada em 0,3 pontos percentuais.

Impacto sobre o PIB brasileiro: 0,3 ponto percentual

COMPASSO DE ESPERA

Todas expectativas se voltam agora para a aprovação da reforma da Previdência. O avanço do texto no Congresso pode reforçar o ânimo de investidores, empresários e consumidores, pois sinalizará um cenário mais sustentável para as contas públicas. O controle fiscal afasta os riscos futuros de : alta de impostos, inflação elevada e até insolvência. A economia com o texto que será apresentado nesta quarta-feira, 20, pelo governo deve chegar a até R$ 1 trilhão em dez anos. “Temos uma economia que parece estar num compasso de espera das reformas”, afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.

O mercado já embute em suas avaliações a aprovação de alguma reforma. Para o Itaú Unibanco, o projeto original será modificado no Congresso e deve terminar semelhante ao texto elaborado pelo governo do presidente Michel Temer que já está no Legislativo, com medidas suficientes para economizar R$ 553 bilhões nos próximos dez anos.

Uma análise sobre a tramitação de outras Projetos de Emenda à Constituição (PEC) mostra que a reforma da Previdência provavelmente não será votada na Câmara antes de agosto. Caso ela não passe, a fragilidade fiscal voltará ao radar dos investidores, com uma pressão mais forte sobre o dólar. Nesse cenário, a moeda estrangeira poderia alcançar até R$ 4,50, segundo estimativa do Itaú Unibanco.