A Ata da 241ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (28) pelo Banco Central (BC), mostra que a autoridade monetária está pessimista com a inflação, em especial a dos preços da energia.

Na reunião da semana passada, o Copom confirmou as expectativas do mercado e elevou a taxa referencial Selic em um ponto percentual, para 6,25% ao ano. No Comunicado publicado logo após a reunião, o Comitê praticamente contratou uma alta semelhante no próximo encontro, agendado para outubro. As justificativas são as alterações significativas na percepção do Comitê sobre a economia. Listamos algumas delas a seguir:

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1) A economia global está mais adversa. Na reunião anterior, de 3 de agosto, o maior risco global apontado pelo Copom era a expansão da pandemia, devido à variante Delta do Covid-19. Agora, somou-se a esse risco a possibilidade de diversos países emergentes apertarem suas políticas monetárias para conter a inflação, que vem acelerando ao redor do mundo. Apesar de considerar que o ambiente econômico ainda está favorável para as economia emergentes, o Comitê avalia que o cenário “pode tornar-se mais desafiador”.

2) A inflação continua elevada devido aos preços dos alimentos e dos combustíveis. O Copom aumentou bastante sua projeção de inflação, tanto a esperada para este ano quanto a prevista para 2022. A taxa projetada para 2021 subiu para 8,5%, ante os 6,5% divulgados na reunião de agosto. E a projeção para 2022 também avançou, embora em menor proporção. Agora, a estimativa para o IPCA do ano que vem é 3,7%, ante os 3,5% anteriores. Se esse número parece baixo, temos de recordar que, no início deste ano, a projeção de inflação para 2022 oscilava entre 2% e 2,5%.

3) A causa da alta da inflação tem nome e sobrenome. São os preços dos combustíveis. A energia vai continuar pressionando a inflação. O cenário piorou. Na reunião de agosto, a expectativa era de “bandeira vermelha nível 1” para dezembro de 2021, de 2022 e de 2023. Agora, a hipótese é “escassez hídrica” para dezembro deste ano e “bandeira vermelha nível 2” para dezembro de 2022 e de 2023. Em consequência disso, a alta prevista para os preços administrados, que incluem as tarifas de energia, subiu para 13,7% neste ano ante os 10,0% previstos na reunião anterior.

Abre parênteses: isso não é apenas um fenômeno brasileiro. Na Europa e nos Estados Unidos há surtos de aumento dos preços da energia. Na França, os custos do gás chegaram a subir 300% em dois anos, e há altas da mesma magnitude na Alemanha. Graças ao Brexit, a Inglaterra vem sofrendo com o desabastecimento dos postos de combustíveis devido à falta de motoristas. E nos Estados Unidos o preço do gás de xisto também está subindo. Há rumores de que a Rússia reduziu o fornecimento de gás para os países da Europa ocidental de modo a pressionar por um aumento de preços, que vai exercer mais pressão sobre as cotações, a inflação global e a brasileira. Fecha parênteses.

Haverá mais certeza sobre o panorama visto pelo BC na quinta-feira (30), quando está agendada a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), principal documento macroeconômico do BC. Mesmo assim, já é possível prever que os juros vão continuar subindo, ainda que isso reduza o crescimento econômico. “Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista”, disse o BC.

Na reunião de agosto, a projeção era de que 2021 se encerrasse com a Selic a 7,00%. Os juros permaneceriam nesse patamar durante todo o ano de 2022 e cairiam para 6,50% em 2023. Em setembro, o prognóstico mudou bastante. Os juros para dezembro subiram de 7,00% para 8,25%. As taxas em 2022 devem subir mais um pouquinho, chegando a 8,50%. E a estimativa para 2023 subiu de 6,50% para 6,75%.