As cotações da moeda americana subiram 2,63% na segunda-feira (2) e fecharam a R$ 5,072, após chegarem a um máximo de R$ 5,089. Com isso, o dólar retornou com força aos patamares do ano passado. E a perspectiva é de que o câmbio siga nessa direção, com o real permanecendo depreciado.

O que justificou essa alta do dólar foi uma mudança no cenário externo. Em geral, oscilações da relação entre o real e a moeda americana indicam uma alteração na percepção do risco para se investir no Brasil. Quando a percepção de risco aumenta, o dólar se aprecia diante do real. Em situações opostas, o real se aprecia. No entanto, não foi isso que ocorreu ontem

Servidores do BC marcam protesto em frente à sede do órgão na hora do Copom

O dólar se apreciou diante de várias moedas. O euro, que tem um valor nominal superior ao do dólar, caiu para 1,0506 dólar por euro, menor cotação desde 2001. O iene japonês também se depreciou. Na segunda-feira, um dólar comprava 130,08 ienes, maior nível desde os 131,63 ienes do fim de outubro de 2007.

Por que isso ocorreu? Nesta terça-feira (3) começa a reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. O resultado antecipado pelo mercado é de uma alta de 0,5 ponto percentual nos juros referenciais americanos (Fed funds). Porém, o que os especialistas especulam é qual será a sinalização do Fed para o movimento futuro das taxas. Ou seja, até quanto os juros podem subir e em qual velocidade.

A perspectiva é de uma alta mais intensa do que se esperava anteriormente. Na segunda-feira, a taxa dos títulos de dez anos do Tesouro americano, papéis referenciais, superou 3% ao ano pela primeira vez desde 2018.

Outra incógnita que o mercado espera ver resolvida é a velocidade com que o Fed vai vender os títulos que comprou durante a pandemia. O banco central americano injetou cerca de US$ 4 trilhões na economia por meio da compra de títulos públicos e de títulos lastreados em ativos hipotecários. Já se sabe que boa parte desses títulos será revendida ao mercado ou, em caso de vencimento, não serão renovados. Tudo isso deverá drenar dinheiro da economia americana.

Esse é o motivo da alta do dólar. Com o Fed elevando os juros e reduzindo sua carteira de ativos, haverá menos dólares em circulação. O comportamento da taxa de câmbio, que é o “preço” de um moeda em relação a outra, é igual ao comportamento dos preços do tomate nas feiras-livres. Quando falta tomate, o preço sobe e a salada tem de mudar até a próxima safra. Quando falta dólar, o preço sobe, ou seja, a taxa de câmbio do dólar se aprecia. Passa a ser necessário gastar mais reais, euros, ienes, libras ou francos suíços para comprar um dólar.

A diferença entre o dólar e o tomate é que este pode ser substituído pela cenoura ou pela abobrinha. Já a moeda americana é insubstituível. É uma referência internacional, e não apenas para os preços das commodities, como também para o resultado de empresas internacionais. Mesmo companhias genuinamente brasileiras, como a mineradora Vale, divulgam seus resultados obtidos no Brasil em dólares. Assim, a apreciação da moeda americana terá um efeito intenso não só sobre a inflação global, mas também sobre o resultado das empresas.