As grandes bancos de varejo obtiveram, como de costume, bons resultados no segundo trimestre. Somando-se os R$ 7,63 bilhões de lucro do Banco do Brasil, divulgados na noite da quarta-feira (10), os quatro gigantes listados em bolsa contabilizaram R$ 26,45 bilhões de lucro, alta de 17,3% ante os R$ 22,55 bilhões do segundo trimestre de 2021. O alívio da pandemia e o retorno das atividades econômicas à normalidade garantiram isso. No entanto, as perspectivas não são radiantes. Os índices de inadimplência das pessoas físicas e das pequenas empresas, que têm menos fôlego financeiro, cresceram em todo o sistema financeiro devido à alta de juros e à desaceleração da economia. E, ao comentar as perspectivas, os banqueiros usaram sua palavra favorita para antecipar tempos difíceis: desafiador.

Sem exceção, as instituições financeiras afirmaram ter elevado suas provisões para a inadimplência e prometem ter uma abordagem cautelosa na concessão de empréstimos durante a segunda metade do ano. “Olhando para frente, o cenário de inadimplência exige cautela e o banco está em alerta”, disse Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco na terça-feira (9), ao comentar os resultados. O banco apresentou números melhores do que o esperado pelo mercado e elevou a projeção (‘guidance’) de vários indicadores para os próximos trimestres.

O lucro líquido de R$ 7,7 bilhões ficou acima da mediana do mercado para as expectativas, que era de cerca de R$ 7,3 bilhões. O analista da Inter Invest Matheus Amaral disse que o banco teve um bom resultado de serviços puxado pela administração de recursos, e pelas receitas de cartões de crédito e de assessoria econômico-financeira. E segundo os analistas da XP Renan Manda e Matheus Guimarães, a inadimplência permanece em um patamar confortável, de 2,7%.

Claudio Belli

“Olhando para a frente, o cenário de inadimplência exige cautela e o banco está alerta” Milton Maluhy Filho presidente do Itaú Unibanco.

Mesmo o Banco do Brasil, que apresentou um resultado muito acima do esperado pelo mercado, teve de elevar as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD). O banco lucrou R$ 7,63 bilhões, alta de 14,5% ante o primeiro trimestre e de 38% em relação ao mesmo período de 2021. A rentabilidade patrimonial alinhou-se à dos concorrentes privados, chegando a 20,6% no trimestre, alta de 6,1 pontos percentuais sobre o mesmo período de 2021. A inadimplência acima de 90 dias fechou o trimestre em 2,0%, leve alta de 0,1 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre deste ano. Com isso, o banco aumentou a PDD em R$ 2,9 bilhões.

BRADESCO Inadimplência também foi citada na apresentação de resultados do Bradesco, que divulgou os números do segundo trimestre na sexta-feira (5). O banco registrou uma elevação de 11% nos lucros em relação ao mesmo período de 2021. O resultado melhorou de R$ 6,3 bilhões para R$ 7,04 bilhões. Porém, no segundo trimestre, a inadimplência acima de 90 dias subiu para 3,5%. Para comparar, no mesmo período de 2021 esse percentual era de 2,5%. “A elevação das provisões superou as nossas expectativas”, afirmaram os analistas da Genial Investimentos Eduardo Nishio e Bruno Bandiera. No entanto, a XP Investimentos destacou que nem tudo foi ruim no resultado do Bradesco. O lucro de R$ 7,04 bilhões ficou bem acima das expectativas da corretora, que era de R$ 6 bilhões. “O número foi beneficiado por um desempenho mais forte do segmento de seguros”, afirmaram os analistas.

Já o Santander apresentou, na visão dos analistas, uma piora da margem financeira, medida pelo chamado Net Interest Income (NII). “O NII foi prejudicado mais uma vez pelo resultado com tesouraria, ainda afetado negativamente pelo movimento de alta na taxa de juros”, afirmou Amaral, da Inter Invest. O lucro foi de R$ 4,08 bilhões, 2,2% abaixo do obtido no segundo trimestre do ano passado. Mesmo assim, o número de 2022 ficou acima dos R$ 3,9 bilhões esperados pelo mercado. E houve um ponto positivo: entre os grandes, o Santander foi o único cuja inadimplência para atrasos acima de 90 dias não cresceu, permanecendo em 2,9%.