Após atingir a paridade com o dólar pela primeira vez desde dezembro de 2002, o euro se recuperou. A moeda única europeia chegou a ser cotada a US$ 1,0227 na manhã da terça-feira (19) na praça de Londres, uma alta de 0,8% em relação à véspera. Esse movimento abrupto da moeda europeia deveu-se a uma mudança de percepção dos investidores com relação ao que o Banco Central Europeu (BCE) deverá fazer em sua reunião desta semana, que se inicia nesta quarta-feira (20) e vai até a quinta-feira (21).

Em suas declarações, dirigentes do BCE foram mais explícitos do que o habitual ao sinalizar uma alta de juros. Na quinta-feira a autoridade monetária europeia deve aumentar sua principal taxa de depósito, atualmente negativa em 0,5% ao ano. Será a primeira alta desde 2011.

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Até o início da semana, a percepção dos especialistas era de uma alta de 0,25 ponto percentual, levando os juros referenciais europeus para -0,25% ao ano. No entanto, já há prognósticos de um aumento de 0,5 ponto percentual, zerando as taxas. Isso quer dizer que, ainda neste trimestre, é provável que os juros europeus voltem a ser positivos pela primeira vez desde 2014.

O BCE começou a praticar juros negativos há quase oito anos, quando os países da Zona do Euro enfrentaram crises de dívida. Devido à fragilidade estrutural de algumas economias do bloco, a autoridade monetária europeia é considerada “atrasada” no combate à inflação em comparação com o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e com o Banco da Inglaterra.

Por via das dúvidas, os investidores estão exigindo prêmios mais polpudos para investir na dívida pública europeia. Nesta terça-feira, o rendimento do título federal alemão de dois anos subiu 0,08 ponto percentual, para 0,59% ao ano. O rendimento do bônus alemão de dez anos, referencial para a região, subiu 0,03 ponto percentual, para 1,25%.

O mercado vem sofrendo com a demora dos BCs. As ações europeias caíram cerca de 20% neste ano, medidas pelo índice Stoxx 600 à medida que os investidores questionam a capacidade dos bancos centrais de controlar a inflação crescente sem levar as economias à contração.

A inflação na zona do Euro bateu mais um recorde de alta. O índice de preços ao consumidor (Consumer Price Index, CPI) registrou uma variação de 0,8% em junho. Com isso, a inflação em 12 meses chegou a um recorde de 8,6%. O núcleo da inflação, que não considera os preços mais voláteis dos alimentos e da energia, está em 3,7% nos 12 meses até junho.

Para piorar, os resultados do segundo trimestre, que começaram a ser divulgados nos Estados Unidos, vieram decepcionantes. Isso acendeu o alerta sobre possíveis recessões nos dois lados do Atlântico.

Para não devastar economias mais fracas, os especialistas esperam que o BCE divulgue na quinta-feira um mecanismo de suporte para garantir a solvência de governos como o da Grécia e o da Itália. Uma alta dos juros pode impedir esses governos de honrar seus compromissos de dívida. O rendimento do título de dois anos da Itália aumentou 0,07 ponto percentual, para 1,47%.