Até esta sexta-feira (10) acontece em Los Angeles, nos Estados Unidos, a Cúpula das Américas. O evento, uma reunião de líderes da região que pretende fortalecer a democracia, tem como tema deste ano “Construindo um futuro sustentável, resiliente e equitativo”.

O presidente Jair Bolsonaro viajou na quarta-feira (8) para participar da cúpula a convite do presidente americano, Joe Biden. Este será o primeiro encontro entre os dois após meses de distanciamento, já que Bolsonaro, conhecido como o “Trump dos trópicos”, é um grande admirador do ex-presidente republicano.

O presidente brasileiro foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória de Biden sobre Trump, o que só fez 35 dias depois das eleições, em dezembro de 2020. Além disso, adotou o discurso do republicano de que pode ter havido “fraude” na votação. Em seguida, prometeu uma relação “pragmática” e de “aproximação” com Biden, que de fato avançou pouco.

Biden defendeu, em seu discurso de abertura do evento, que a democracia “é o ingrediente essencial para o futuro”.

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Inicialmente, Bolsonaro relutou em comparecer à Cúpula das Américas, mas um cenário de intensa atividade diplomática e a oferta de um encontro bilateral acabaram por convencê-lo.

No entanto, a nona Cúpula das Américas é afetada pela ausência de vários presidentes, incluindo o mexicano Andrés Manuel López Obrador, descontente com a decisão de Washington de excluir os governos de Cuba, Nicarágua e Venezuela, por considerá-los ditaduras.

Divergências

As divergências entre Biden e o brasileiro são óbvias: o Brasil permanece neutro a respeito da guerra na Ucrânia, na qual os Estados Unidos lideram a mobilização ocidental e, assim como Trump, Bolsonaro levantou sem provas o fantasma de uma possível fraude eleitoral nas eleições presidenciais de outubro, quando enfrentará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Este será um dos temas abordados na reunião bilateral, quando Biden mencionará a importância de “eleições abertas, livres, justas, transparentes e democráticas”, conforme afirmou na quarta-feira Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden.

Os dois presidentes também discordam sobre a mudança climática. Bolsonaro considera que Biden tem uma “obsessão pela questão ambiental” expressas nas pressões para que o Brasil combata de maneira ativa o desmatamento na Amazônia.

Em uma cúpula climática organizada por Biden em abril de 2021, Bolsonaro prometeu buscar a neutralidade de carbono até 2050, dez anos à frente da meta anterior, não conseguindo convencer seus críticos de sua súbita conversão a uma agenda ambientalista.

Apesar das desavenças diplomáticas, a relação comercial se mantém próxima. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Os intercâmbios entre os dos países ultrapassaram os US$ 26 bilhões entre janeiro e abril deste ano, um aumento de 41% em relação ao mesmo período de 2021.

Objetivos do evento

Cinco projetos de compromisso devem ser adotados na cúpula para cinco áreas: governança democrática, saúde e resiliência, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental, transição para energia limpa e a transformação digital.

Além disso, durante o evento será adotada a chamada Declaração de Los Angeles sobre Migração. Enquanto os representantes dos países debatem, milhares de migrantes sem documentos avançam pelo México em uma caravana com destino aos Estados Unidos.