O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro avançou 1% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores, em um resultado que fortalece a previsão de que as riquezas produzidas no Brasil vão avançar nessa mesma escala na soma do ano. Listo agora cinco fatos que envolvem essa cifra e que merecem atenção.

  • Serviços – a estrela do Brasil

O Brasil já se vendeu como o País do agronegócio e da indústria,  mas são os serviços os verdadeiros protagonistas da economia brasileira hoje em dia. Responsável por empregar mais de 50% da mão de obra e deter quase 70% do PIB, segundo dados do IBGE, a capacidade de retomada dos serviços nessa fase do arrefecimento da pandemia surpreendeu. O setor avançou 1% no primeiro trimestre ante ao quarto de 2021, enquanto o agronegócio e a indústria andaram de lado (-0,9% e 0,1%, respectivamente). Ao olhar o índice por seus subgrupos em serviços, o destaque são os “outros serviços” (+2,2%). Na segunda colocação ficaram os transportes, resultado do aumento da demanda pós-pandemia, mas também do incremento do preço em função da inflação.  Segundo Fernanda Consorte economista chefe do Banco Ourinvest, o resultado mostrou a resiliência do setor de serviços, inclusive dentro de um contexto de alta dos preços.

Alta do PIB do 1º tri de 2022 ante 4º tri de 2021 é a maior desde 1º tri de 2021

  • No top 10 do mundo

Bolsonaro não pode dizer que ficou de fora de todos os top 10 dos rankings positivos da economia mundial durante seu mandato. Com a alta de 1%, o PIB o Brasil figura em 8º na lista com 32 países compilada pela Austin Rating. Tudo bem que oitavo lugar é dividido com o México e a Colômbia o que, tecnicamente, empurra alguém para fora dos 10 melhores – mas como a corretora não fez essa maldade, não sou eu que vou fazer. O Brasil ficou imediatamente atrás da de Turquia e Tailândia (+1,2%), e à frente de Austrália, Reino Unido e Coreia do Sul (0.8%). No top 3 aparece o Peru (2%), as Filipinas (1,9%), o Canadá (1,6%). A China sustenta uma quinta colocação

  • Se tudo der errado, andamos de lado

Sei que é perigoso falar isso nesse momento – a tal da Lei de Murphy gosta de pregar algumas peças. Mas economistas já estão falando que a alta de 1% do PIB agora deve garantir que o Brasil cresça entre 0,8% e 1,3% na soma do ano. Isso se não houver nenhuma saída muito brusca do percurso. Tradicionalmente o segundo semestre em ano eleitoral é delicado, mas se o segundo trimestre vier bom, os seis primeiros meses do ano vão fortalecer o indicador para que haja alguma “gordurinha” para queimar no período eleitoral – tradicionalmente conhecido por prejudicar a atividade econômica pelas incertezas. A esse movimento de usar uma alta para amortecer eventuais desacelerações é dado o nome de carrego estatístico. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, disse que o resultado “é um número para comemorar”, mas vê um cenário bem mais difícil à frente. “A economia [brasileira] ainda não sentiu no primeiro trimestre toda a política monetária restritiva nem toda a crise causada pela guerra [entre Rússia e Ucrânia]. Ela começou no fim de fevereiro, então pegou menos da metade do trimestre”.

  • Sentado no caixa

A expressão “sentar no caixa” é bastante comum entre empresários e é usada sempre que um CEO, presidente ou tomador de decisões financeiras resolve ser conservador com o dinheiro que recebeu e não investir mais do que o estritamente necessário.  E para exemplificar este movimento os dados do IBGE apontaram que a Formação Bruta de Capital Fixo caiu 3,5%, impactado pela diminuição na produção e a substituição por importação de bens de capital. Vinícius Lemos, professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse que esse dado é o mais preocupante do indicador, porque é um dos poucos que diz mais sobre o futuro do que sobre o agora. “Não ter investido no primeiro trimestre significa que não há intenção ou previsão de crescimento nos meses seguintes”, disse. Em outro cenário, se por acaso a demanda explodir, a falta de oferta também tem um efeito nos preços. Atualmente a FBCF está 14% abaixo do pico da série histórica, em setembro de 2013, e 12% acima do período pré-pandemia.

  • O pior já passou para o agronegócio

Um alento aos agroboys de todo o Brasil. A retração de 0,9% no PIB no primeiro trimestre deve ser a única variação negativa do setor no ano. Pelo menos segundo os economistas. O tropeço já era esperado e seria reflexo de quebras de safra, aumento dos custos da produção e a guerra na Ucrânia. Quando olhamos a comparação anual o número pode até assustar: -8%, mas isso deve ser contornado entre abril e junho.  Desde março as culturas atrasadas pelo mau tempo foram colhidas e entrarão na conta do segundo trimestre. Nesse período também aumentaram as exportações, fruto do redirecionamento de commodities que iam para a China e dos problemas logísticos na região do leste Europeu em função da guerra.