Lançado pela B3 no último dia útil de 2010, o Índice de Fundos Imobiliários (Ifix) tornou-se um dos indicadores mais importantes do mercado, por fornecer um parâmetro para os Fundos de Investimento Imobiliário. No pregão da sexta-feira (25), o Ifix fechou em baixa de 2,01%. Se não considerarmos os solavancos provocados pelos primeiros dias da pandemia, foi a quarta maior queda diária da história do Ifix.

O movimento foi comparável ao “Jucá Day”, em dezembro de 2015, quando a queda foi de 4,86%, e ocorreu pelo mesmo motivo: a proposta de tributar os rendimentos dos FII, que atualmente são isentos de imposto. A sugestão veio em um relatório do então senador Romero Jucá, do MDB de Roraima, e provocou um terremoto no mercado. No entanto, o lobby do setor imobiliário agiu rapidamente e a proposta, inserida de contrabando no texto de uma medida provisória, perdeu validade. As cotas dos fundos imobiliários recuperaram suas perdas e a vida seguiu – com uma alteração significativa.

A mudança é que, desde o fim de 2015, os FII se tornaram o segundo investimento mais popular do mercado. Pelos cálculos mais recentes, há cerca de 1,3 milhão de pessoas físicas investindo nesses fundos. Esse contingente só é secundado pelos 3,7 milhões de CPFs que investem em ações. Os motivos para a alta dos últimos meses são fáceis de entender. Os FII juntam três características amadas pelo investidor brasileiro. O primeiro, e mais importante, são os ativos de base imobiliária. Nossa herança cultural lusitana nos torna grandes entusiastas por tijolos, e a possibilidade de comprar imóveis de primeiríssima linha sem ter as preocupações dos inquilinos é irresistível.

O segundo é a liquidez. As cotas dos fundos são negociadas no pregão como se fossem ações, o que garante a possibilidade de entrar nas posições e sair delas com muito mais facilidade do que no caso de um imóvel. Além disso, os fundos permitem montar posições com pouco dinheiro.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, está a isenção tributária das aplicações. Aqui há outra característica lusitana. O investidor brasileiro vive um “sebastianismo rentista”. Sofre com uma saudade doída do 1% de juros ao mês mais correção monetária que havia nos primeiros anos do Plano Real, quando os juros brasileiros eram os mais elevados do mundo.

Ao serem remunerados em grande parte por índices de inflação como o IPCA mais uma taxa de juros, e por pagarem rendimentos todos os meses, o FII são o produto financeiro que mais se aproxima desses tempos edênicos de um rendimento sem esforço e não submetido à indignidade de pagar impostos.

Como qualquer mudança tributária, a proposta apresentada ao Congresso na sexta-feira 25 trará muita discussão e muita contestação. No entanto, ao lançar tributos sobre os fundos imobiliários, a sugestão torna mais uniformes as regras tributárias para os investidores, o que reduz algumas distorções no mercado, exatamente como a isenção sobre os FII.