Nesta quinta-feira (22), o Ministério da Agricultura confirmou um novo caso de encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como o mal da “vaca louca” no Brasil. A ocorrência foi identificada em um animal de 9 anos no município de Marabá (PA). Apesar de o governo do Pará afirmar que se trata de um caso isolado, pouco ainda se sabe sobre a doença no Brasil. Nas últimas décadas, foram registrados dois casos, em 2021, nos estados de Minas Gerais e no Mato Grosso.

Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará, a sintomatologia indica que se trata da forma atípica da doença, que surge espontaneamente na natureza, geralmente em animais mais velhos, não causando risco de disseminação ao rebanho e ao ser humano. No entanto, o rebanho com 160 cabeças de gado foi interditado.

Venda proibida

A exportação de carne bovina brasileira para a China está temporariamente suspensa por conta de um tratado já assinado entre o Brasil e o país asiático, de interromper a venda da matéria prima em caso de risco. 

“Atualmente, o Brasil exporta 57% da produção de carne bovina para a China, sendo o maior parceiro comercial desse produto para o país. A suspensão causa um baque imediato para as empresas do segmento, já sendo impactadas com a queda na precificação das ações na Bolsa de Valores, e isso deve ter como consequência uma suspensão de pelo menos de 2 a 3 meses”, explica Gilberto Braga, economista e professor do IBMEC RJ.

Marcas de carne bovina, como Minerva, Marfrig e JBS, tiveram queda nos preços das ações. A Minerva Foods, por exemplo, tinha ações valendo R$ 12,38 até semana passada, e passou para R$ 11,40 com a confirmação do caso.

A liberação de algumas regiões para exportação dessa carne pode ser feita parcialmente, segundo Braga, até que seja retomado o fluxo de exportação. “Outro efeito é que parte dessa carne pode ser, após garantida a segurança, vendida internamente ao invés de ser exportada, e o custo pode ser barateado para o consumidor brasileiro”, explica o economista. 

Como ocorre a transmissão?

Jô Furlan, médico e neurocientista que atua em comunidades ribeirinhas no Pará, explica que a origem da doença nos animais pode ocorrer de duas formas: em quadro demencial do gado, quando ele desenvolve o príon, uma proteína que gera a doença; a outra forma é consumindo ração com derivados animais, e estes estejam contaminados.

“Pelas características da propriedade no Pará, com 160 cabeças e considerada pequena, a possibilidade de o proprietário ter usado esse tipo de ração –  que é proibida no Brasil – é pequena. Portanto, é mais provável que o animal tenha desenvolvido a proteína. 

No caso de humanos, pode-se adquirir a doença pela ingestão da carne contaminada. O distúrbio recebe o nome de doença de Creutzfeldt-Jakob e causa demência, pois afeta o sistema nervoso. Segundo Furlan, o caso é extremamente raro, mas acontece com de certos tipos de cortes derivados do cérebro do animal – os que partem da medula, cérebro e tecidos de fundo de olho dos bovinos. Esse tipo de corte, segundo o médico, é proibido no Brasil.