O peso direto e indireto do custo dos combustíveis no bolso dos brasileiros tem aumentado tanto que o assunto ganhou espaço no texto da PEC do Estado de Emergência, aprovada pela Câmara dos Deputados e que permitirá ao governo federal usar mais de R$ 41 bilhões acima do teto de gastos. Desse montante, R$ 3,8 bilhões serão destinados ao segmento do etanol hidratado, com o intuito de aumentar sua competitividade frente à gasolina e reduzir o preço aos consumidores.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o valor médio nacional do litro do etanol, que estava em R$ 4,57 antes da PEC, pode chegar a R$ 4,38, ou até a R$ 4,04 em determinadas localizações, a partir de iniciativas estaduais para conter a incidência do ICMS sobre o combustível. A exemplo do anúncio feito pelo governo de São Paulo na segunda-feira (18), de reduzir o imposto de 13,3% para 9,57%.

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Para o presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, é mais do que justificável um regime fiscal diferenciado para os biocombustíveis em relação aos combustíveis fósseis, pois corrige “uma distorção incoerente com o atual momento de transição em busca de energias mais limpas e menos poluentes”. Segundo dados da Unica, desde o lançamento dos automóveis com tecnologia flex fuel, em 2003, cerca de 600 milhões de CO2 deixaram de ser lançadas na atmosfera.

Tal cenário reforça a tendência de a indústria sucroenergética priorizar a produção de etanol à de açúcar. A perspectiva é de que o biocombustível fique com 56,5% desse mix na safra 2022/23 (na anterior foi de 54,8%), conforme o relatório Visão Agro publicado pelo Itaú BBA. O documento mostra ainda que o segmento pode ser beneficiado pela valorização dos Créditos de Descarbonização (Cbios). No final de junho, esses títulos financeiros, criados a partir da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e comercializados na B3, atingiram R$ 202,65, sua maior cotação.

No campo, o clima tem contribuído, sobretudo pela regularidade de chuvas nas regiões canavieiras no primeiro trimestre do ano. O relatório do Itaú BBA estima produtividade de 73 toneladas por hectare nos canaviais na safra 2022/23, evolução de quase 8% sobre a temporada anterior. Poderia ser melhor, mas os efeitos da escassez hídrica ocorrida no ano passado ainda não permitem.