Perdendo contratos importantes e milionários com a agência espacial americana (NASA), Jeff Bezos e seu projeto espacial procuram novas frentes não só para investir, mas para obter relevância. E é o caso da recente Declaração de Intenção Estratégica assinada entre Brasil e AWS (Amazon Web Services), plataforma de serviços de computação em nuvem, para apoiar o crescimento de longo prazo no setor aqui no País. A futura parceria não tem nada a ver com as já famosas missões da New Shepard, que já está em sua 18a incursão ao espaço, e leva foguetes e cápsulas tripuladas para voos turísticos da iniciativa privada Blue Origin – o concorrente Elon Musk e sua SpaceX levou vantagem com a NASA. Está mais calcada em fornecimento de crédito para estimular a indústria aeroespacial brasileira, com programas de pesquisa e desenvolvimento, e recursos de treinamento e promoção de startups na área. Além disso, um programa de patrocínio de dados abertos da AWS, ou seja acesso de pesquisadores brasileiros a um repositório da AWS para agilizar e facilitar empreendimentos nossos.

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Curiosamente, as duas frentes também acordaram em entrarem juntas em discussões políticas e de regulamentação para o desenvolvimento espacial com o governo e entidades que participem do assunto nacionalmente. O acordo foi firmado com a Agência Espacial Brasileira (AEB), com ajuda da Embaixada Brasileira em Washington, sede da AWS e projetos espaciais de Bezos, e seria a primeira tratativa dessa natureza da iniciativa americana com a América Latina. O Brasil já tem parcerias bilaterais com a agência espacial americana, a NASA, no âmbito de pesquisas ionosféricas e exploração da Lua, pois somos signatários dos Acordos Artemis.

A iniciativa quer colocar uma microafinação entre os projetos da AEB e a iniciativa privada brasileira, aproveitando o crescente e já notório avanço do ecossistema de inovação americano. “É uma iniciativa concreta com os americanos, os mais avançados no mundo na área espacial”, disse o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster Jr. Carlos Augusto Teixeira de Moura, presidente da Agência Espacial Brasileira, segue na mesma linha: “O acordo com a AWS é um passo importante para fomentar nossa indústria espacial, no momento em que o Brasil visa inserir-se mais fortemente no mercado espacial, como, por exemplo, no segmento de acesso ao espaço, com o espaço porto de Alcântara”.

O Centro de Lançamento de Alcântara, criado em 1983, na costa atlântica norte do Brasil, no estado do Maranhão, é considerado um ponto ideal no planeta para lançamentos de satélites e foguetes por estar a 2 graus ao sul do equador. Como a velocidade de rotação é mais rápida perto do Equador, os foguetes espaciais gastam menos combustível para entrar em órbita – e combustível espacial pode ser traduzido em “dinheiro”. A base foi cenário de um acidente e tragédia em 2003, que matou 21 pessoas, mas já está operacional e abriu agenda para lançamentos, que resultaram em acordos com as americanas Virgin Orbit, Orion AST e Hyperion Rocket Systems, para o segundo semestre de 2022.

Não há valores anunciados ainda para serem investidos em iniciativas brasileiras, mas a AWS não é uma desconhecida em termos de apostar no Brasil: em 2020, a Amazon anunciou um investimento de R$ 1 bilhão no País para expandir seus data centers em São Paulo e assegurar a infraestrutura da empresa na América Latina. “A AWS tem orgulho de apoiar a missão do Brasil de impulsionar a inovação e o crescimento na indústria espacial”, disse Jeff Kratz, gerente-geral para as regiões da América Latina, Canadá e Caribe e para o setor público mundial da AWS. Segundo ele, o acordo fornece ferramentas, treinamento e educação para que o Brasil continue líder no setor na América Latina.