A inflação está acumulada em 11,73% nos 12 meses até maio, e deverá seguir alta em junho, apesar da redução dos preços dos combustíveis. Isso tem preocupado o governo, a ponto de as principais autoridades da República terem apelado ao setor supermercadista para conter o aumento dos preços dos alimentos. A comida está estruturalmente mais cara, e isso vem mantendo os índices de inflação em patamares elevados.

Um dos exemplos foi o óleo de cozinha. Segundo um levantamento da startup especializada em monitoramento de preços Precifica, os preços do óleo de soja subiram 1,4% em maio na comparação com abril. Na medição anterior, a alta havia sido de 1,1% em abril ante março. Segundo o presidente da Precifica, Ricardo Ramos, a causa é um movimento em toda a cadeia produtiva, devido à alta dos preços das commodities.

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Até onde os preços das commodities vão subir? Impossível prever. Até onde o mercado acha que elas podem subir? Essa pergunta, que valia como parâmetro, também deixou de ter resposta. Para conseguir se desviarem da imprevisibilidade dos preços, os agentes econômicos aprenderam a trabalhar com base em estimativas do comportamento futuro dos preços. Isso permitia antecipar movimentos e, se as projeções estivessem erradas, era mais fácil corrigir a rota do que começar do zero. O fato de a greve dos funcionários do Banco Central (BC) ter suspendido a divulgação de informações importantes como o Relatório Focus deixou os agentes econômicos sem bússola.

Isso é um problema. A incerteza com relação aos preços deve fazer com que os profissionais do mercado financeiro e os empresários sigam elevando as projeções de inflação. Na quinta-feira (30), o BC deverá divulgar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Durante muitos anos, o BC funcionou como o balizador final de expectativas. Isso valeu até quando a autoridade monetária persistiu em uma posição questionada pelo mercado, como ocorreu em 2015 e em 2021.

Nesses dois momentos, por razões distintas, o BC decidiu que valia a pena ser tolerante com a inflação. Em ambos os casos ocorreu o esperado. Em um país com memória inflacionária tão persistente como o Brasil, a tolerância do BC abriu as portas da jaula que prendia o dragão. Levou tempo, deu trabalho e custou caro – em termos de atividade econômica – para reconduzir a fera ao cativeiro.

Agora há uma situação inversa. O BC se antecipou a seus pares de países mais desenvolvidos e começou a elevar os juros já em 2021 para conter a inflação. Os índices de preços seguem malcomportados. Apesar de a inflação não estar dando sinais de um comportamento explosivo, os preços seguem muito acima da meta prevista para 2022. O risco de descumprimento da meta já vem avançado para 2023. Essa projeção vai se confirmar? Para saber isso é necessário avaliar como o BC está enxergando a situação. Daí a importância do RTI.