O País andou nos últimos dias na cadência de espera pela melhora da saúde do presidente. Ficou tudo na dependência da alta de Bolsonaro. Há de se perguntar quanto custou esse período de internação – diga-se, de passagem, que era para uma necessária e já adiada, seguidas vezes, cirurgia de reparação, portanto inevitável. Não se está falando, naturalmente, da conta em termos do tratamento a que ele foi submetido. E sim da paralisação do governo nesse tempo de aguardo pela caneta do mandatário para aprovar projetos urgentes. O interregno certamente saiu caro, em todos os sentidos. Até no da negociação política com os parlamentares que, claro, foram procuradores pelos emissários do Executivo, por ministros e assessores, mas que não se mexem antes do aval final do chefe maior do Planalto.

Em suma, a cruzada de reformas vai tendo o cronograma adiado. Já se fala que, no caso da Previdência, ela só será aprovada lá para setembro ou outubro, se tudo sair dentro do previsível. O pacote anticrime do ministro Moro passeia, por sua vez, no limbo. Sem data para discussão ou votação, ainda aguarda significativos ajustes. Os parlamentares torcem o nariz a muitas das medidas sugeridas. Magistrados do Supremo, idem. Na verdade não há consenso sobre nada. Atos burocráticos como a formação de comissões, escolha dos membros e acertos partidários emperram ainda mais o fluxo desses assuntos no Congresso, onde tudo pode vir a correr ao mesmo tempo.

Diante do impasse, intramuros do Executivo, os problemas – e não apenas de ordem financeira – vão se acumulando. Um conta elaborada pelo Banco Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, mostra que o Brasil consome hoje entre salários do funcionalismo público e benefícios do INSS cerca de 28% do PIB. Uma barbaridade. Nessa contabilidade, restam para a Educação apenas 6% da verba. Um pingo d’água. O que atrasa ainda mais o desenvolvimento tecnológico e de formação de mão de obra adequada no País. O time de Bolsonaro ainda se vê as voltas com divergências internas sérias. Ministros sendo bombardeados pelo filho do presidente e uma espécie de guerra de patotas começaram a trincar a governabilidade.

A nomeação para cargos nas autarquias, estatais e diversos outros órgãos da máquina também virou motivo de perrengue. O czar da economia, Paulo Guedes, pensa em dar fim a isenção previdenciária dos exportadores rurais e, com isso, abriu outra frente de batalha. O governo ainda estuda aumentar pedágios na estrada, contrariando a forte categoria dos caminhoneiros. Surpreende a quantidade de focos de incêndio que a turma de Bolsonaro é capaz de provocar em tão pouco tempo de gestão. Seria bom que, daqui para frente, os bombeiros começassem a entrar em campo. Com a volta do comandante ao batente quem sabe isso aconteça.

(Nota publicada na Edição 1108 da Revista Dinheiro)