O Enjoei quer ocupar (e desocupar) cada vez mais o armário dos brasileiros. Um objetivo que funciona para a sua operação, mas trouxe efeitos colaterais fora dela. Desde o IPO em novembro de 2020, quando levantou R$ 1,13 bilhão, o valor das ações da empresa derreteu mais de 72%. A conjuntura econômica é um dos motivos por trás da debandada de papéis de small caps, caso do Enjoei. Mas a analista de varejo da XP Danniela Eiger observa que a economia circular, à qual o negócio está atrelado, é uma novidade para o mercado financeiro e seus resultados não são medidos no curto prazo, o que fica sob estresse na crise. “O plano da companhia sempre foi gerar lucro dentro de dois a três anos”, disse.

Acompanhar seu negócio evoluindo conforme a estratégia inicial é o que alivia a pressão sobre Tiê Lima e Ana Luiza McLaren, CEO e presidente do conselho, respectivamente, que cofundaram a empresa em 2009. “Conseguimos superar este primeiro ano de abertura de capital e nos estruturar para uma nova fase”, afirmou Lima. Na apresentação da prévia operacional do quarto trimestre, o Enjoei divulgou o reajuste da taxa da plataforma, de 13% para 18%, como esforço para melhorar as margens e apaziguar o mal-estar do mercado. O sprint no último período ainda ajudou a plataforma a movimentar R$ 826 milhões em vendas, alta de 67% sobre 2020. Encerrou 2021 com a compra da Gringa, de comércio de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões.

Para sustentar o crescimento em 2022, os executivos ampliam as perspectivas para a marca, considerando a expansão para canais físicos, mas, antes, devem priorizar o universo on-line. “A Gringa opera em um nicho com boas margens e em que as próprias marcas geram desejo de compra”, afirmou Ana Luiza. “A nós caberá oferecer serviço de excelência.” Pelo acordo, a ex-atriz global e fundadora da plataforma, Fiorella Mattheis, permanecerá à frente da Gringa. As plataformas continuam em operações separadas, mas se unem para os investimentos em tecnologia e alavancar tráfego.

COMPRA DE R$ 14 MI Plataformas Gringa e Enjoei continuarão separadas, e Fiorella Mattheis segue à frente do seu negócio. (Crédito:Divulgação)

Como tática operacional, eles ficam atentos aos movimentos de audiência. Segundo o CEO, “se o mercado fica mais competitivo para aquisição de usuários, buscamos melhorar a recorrência das transações.” Entre esses recursos, Tiê Lima cita o aumento do sortimento, com mais de 1 milhão de vendedores ativos na plataforma. Pelas prévias do último trimestre, a oferta de produtos publicados entre outubro e dezembro somou 3,8 milhões de itens, 15% a mais que o quarto trimestre de 2020. Ele celebra ainda que, no terceiro trimestre de 2021, 53% das transações foram realizadas por usuários que compraram seis ou mais vezes.

TENDÊNCIA O mercado global de usados deve alcançar US$ 77 bilhões até 2025, segundo a Statista. É um segmento que tende a crescer 20% ao ano depois de uma leve retração em 2020. Mas foi neste primeiro ano de Covid-19 que o Enjoei triplicou seu número de usuários ativos. Além de operar no e-commerce, impulsionado nesse período, a crise econômica e o desabastecimento da cadeia de suprimentos puxaram as buscas pela plataforma. Ana Luíza diz que “mesmo antes da pandemia, já víamos aceleração em períodos de crise ou quando o orçamento aperta, caso do mês de janeiro”.

Para Danniela Eiger, da XP, por oferecer um canal para geração de renda extra e produtos a preços mais acessíveis, o Enjoei ocupa uma posição privilegiada no mercado em 2022, mesmo com um ano desafiador para o consumo. “Mas é importante lembrar que, por se tratar do varejo discricionário, isso pode não ter um impacto direto sobre os resultados”, afirmou a analista.