A Eneva registrou lucro líquido de R$ 489,4 milhões no quarto trimestre de 2021, queda de 28,7% na comparação com os R$ 629,9 milhões reportados no mesmo período do exercício anterior. A queda, no entanto, reflete um ajuste contábil feito em 2020, que inflou o resultado em um montante da ordem de R$ 300 milhões, relacionado a uma mudança de regra de alocação de imposto diferido.

“O lucro líquido de 2020 não era um lucro líquido de fato vindo da operação, tinha um pedaço vindo de mudança de regra contábil, e este ano não, o lucro líquido é todo dentro da operação e se você fizer o ajuste de 2020, nosso lucro líquido subiu bastante”, disse o diretor financeiro e de Relações com Investidores da Eneva, Marcelo Habibe, ao Broadcast Energia.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 39% no período, ante o quarto trimestre do ano anterior, para R$ 842,5 milhões, alcançando o maior valor de Ebitda trimestral já da história da companhia. O Ebitda ajustado – que exclui o impacto dos poços secos -, foi de R$ 859,7 milhões, uma elevação de 39,9% na mesma base de comparação. A margem Ebitda, excluindo poços secos, alcançou 51,1% no trimestre, alta de 0,9 ponto porcentual (p.p) na base anual.

Habibe destacou que o desempenho operacional reflete a “tempestade perfeita” pela qual a companhia passou em 2021, quando foi mais demandada a gerar energia por suas termelétricas, por causa da crise hídrica, e obteve preços mais elevados por megawatt-hora, por causa da crise internacional. “O ano passado foi um ano bastante atípico: normalmente a companhia despacha entre 45% e 55% do ano e no ano passado, em função da crise hídrica, ficamos muito mais tempo ligados, superou os 70% do ano com termelétricas ligadas, e como o despacho da companhia tem uma margem positiva, isso afetou diretamente o resultado operacional”, disse.

Além do despacho elevado, beneficiou a companhia o aumento significativo do Custo Variável Unitário (CVU) das usinas, em particular a Parnaíba I, maior termelétrica da companhia, que possui receita atrelada ao câmbio e ao preço internacional do gás natural, embora tenha custo em reais. “Como o preço internacional do gás subiu muito e o câmbio também subiu no ano de 2021, isso teve impacto direto no CVU da maior termelétrica que é Parnaíba I e, consequentemente, na rentabilidade da companhia. Então, de fato para o mesmo quilowatt-hora gerado, geramos mais dinheiro porque ele foi melhor remunerado”, contou Habibe.

Entre outubro e dezembro, a receita líquida da Eneva somou R$ 1,682 bilhão, valor 37,5% maior que o observado no mesmo período de 2020.

O resultado financeiro ficou em R$ 152,2 milhões negativo, 105% maior que os R$ 74,3 milhões negativos anotados um ano antes.

Consolidado 2021

No consolidado do ano, o Ebitda da companhia também alcançou valor recorde de R$ 2,2 bilhões, alta de 37,6%, sendo que o indicador ajustado, excluindo poços secos, chegou a R$ 2,256 bilhões, 39,5% maior. A margem Ebitda ex poços secos recuou 5,8 p.p., para 49,9%

O lucro líquido atingiu R$ 1,173 bilhão, o que corresponde a um aumento de 16,4% frente o exercício anterior. Já a Receita operacional líquida cresceu 58%, para R$ 5,124 bilhões.

Ao longo de 2021, a companhia investiu R$ 1,747 bilhão, valor muito próximo do montante que a companhia possuía de caixa e equivalentes ao final do ano (R$ 1,7 bilhão).

A alavancagem, medida pela relação dívida líquida por Ebitda, era de 2,8 vezes, abaixo das 3,0 vezes do trimestre anterior e das 3,3 vezes do encerramento de 2020. A dívida líquida da companhia era de R$ 6,2 bilhões ao final de dezembro, uma alta de 18,8% na base anual.

“Foi um ano surpreendente, não somente em termos de resultado operacional, que foi o melhor, mas em possibilidades de crescimento também”, disse Habibe.

Dentre os sinais positivos de perspectivas futuras, o executivo citou o bom desempenho da campanha exploratória ao longo de 2021, com a certificação de 6,9 bilhões de metros cúbicos de gás de novas reservas, o que permitirá à companhia estender a vida útil de suas usinas ou implantar novas termelétricas. Ele lembrou também do anúncio da compra da Focus Energia, garantindo à companhia acesso a projetos solares de grande porte. E destacou, ainda, a viabilização da termelétrica Azulão I, após vencer leilão de capacidade realizado em dezembro, permitindo que a companhia replique na bacia do Amazonas o modelo “R2W” pelo qual ficou conhecida e que desenvolve na bacia do Parnaíba, que consiste na exploração da atividade de gás no local desde o reservatório até a geração de energia elétrica.

“Isso anima bastante as perspectivas desta companhia em termos de crescimento. Não é só falar – antigamente a gente tinha planos, falava, mostrava -, mas agora está se tornando realidade”, disse.