Os dois piores venenos para a popularidade de um presidente (em especial em ano eleitoral) são inflação e desemprego. E com sua experiência, o presidente Jair Bolsonaro sabe muito bem disso. Para tentar evitar que a combinação desses dois fatores coloque risco de morte ao seu sonho da reeleição, ele tem articulado junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, formas de derrubar o preço médio dos produtos para os brasileiros, em especial neste primeiro semestre, já que são esperadas para a segunda metade do ano complicações ainda maiores na economia.

Uma das soluções apontadas é baixar os preços da energia, que tem desde o ano passado pressionado a inflação para cima. Com os reservatórios de água mais perto da normalidade, a bandeira da crise hídrica deixa de ser necessária, e a diminuição nas contas pode chegar a até 20% em alguns casos, embora, na média, a redução prevista seja inferior a 7%. O problema é que a boa notícia não vem sozinha. Uma alta generalizada nos preços dos remédios, anunciada há alguns dias pelo setor farmacêutico e medicamentoso, terá um efeito maior que o esperado no bolso do brasileiro. A alta, que chegará a 11%, foi autorizada pelo governo federal. Se for aplicada de modo muito abrupto nos próximos meses, terá um efeito nocivo na percepção do brasileiro sobre o andamento da economia, contaminando a campanha de reeleição do presidente.

Fim de cobrança extra deve reduzir conta de energia em 6,5%, estima mercado

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o reajuste deve ser diluído ao longo do primeiro semestre do ano. Cerca de 60% do impacto deve ser sentido em abril, 30% em maio e 10% em junho. No meio desse processo, no entanto, tem uma ação na Câmara dos Deputados, protocolada pelo deputado Chico D’Angelo (PDT/RJ) para sustar os efeitos do aumento autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). O movimento pode não ter efeito prático, mas pode empurrar o reajuste para os próximos anos, deixando seus efeitos mais pertos de outubro.

Para tentar apresentar uma agenda positiva no meio desse cenário, Bolsonaro usou o Twitter para anunciar a mudança na conta de luz para a bandeira verde. A redução, de cerca de 20%, passa a valer no próximo dia 16. “Bandeira verde para todos os consumidores de energia a partir de 16/04. A conta de luz terá redução de cerca de 20%”, escreveu no dia 6 de abril. A previsão era de que a bandeira tarifária adotada para compensar a falta de chuvas do ano passado ficasse em vigor até 30 de abril deste ano.