OBrasil acaba de entrar na rota de vendas de carros elétricos de mais uma montadora. Na quarta-feira 12, em São Paulo, o presidente para a América Latina da Fiat Chrysler (FCA), Antonio Filosa, anunciou que até o final deste ano trará ao País um modelo totalmente elétrico da marca italiana e, em 2021, as versões híbridas do Renegade e do Compass, ambos da marca americana Jeep. Demorou, já que praticamente todos os seus competidores já oferecem – ou ao menos se anteciparam no anúncio de comercializar – por aqui veículos híbridos e elétricos. Questionado se o primeiro modelo italiano embarcado com essa tecnologia seria o subcompacto Fiat 500, o executivo respondeu de forma pouco assertiva: “Sim, pode ser o Fiat 500”.

Embora de olho na tomada, Filosa acredita que o etanol ainda tem espaço no Brasil e a migração para modelos totalmente elétricos deverá ser um pouco mais lenta em função disso. Mas ele concorda que é necessário oferecer outras tecnologias além do motor a combustão, até por ser uma tendência mundial. “É uma oportunidade para testarmos a aceitação desses produtos no mercado brasileiro”, diz Filosa, reforçando que os modelos serão importados da Itália.

Para o executivo, o Brasil deverá puxar as vendas de automóveis na América Latina este ano, a exemplo de 2019. A expectativa tem como base a situação econômica dos países vizinhos. Enquanto por aqui houve avanço em torno de 8% no setor em 2019, na Argentina o mercado recuou 40%. Nos outros países da região, houve retração média de 6%. “Acreditamos que o mercado brasileiro venda 6% mais do que no ano passado, alcançando 2,8 milhões de unidades. Trabalhamos para aumentar nosso faturamento num patamar um pouco acima, quem sabe 8%, 9% ou 10%”, diz. “Quanto à Argentina, estamos observando, deverá ter retração entre 10% e 15%. Nos outros países, o cenário é de estabilidade”. A meta para o continente é expandir as vendas em 1,5%.

No Brasil, a empresa tem participação de 18% no mercado e quer ampliar para 21%, mas o presidente da FCA não deu um prazo para esse objetivo ser atingido. Em seu ponto de vista, as vendas no mercado doméstico devem crescer tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas, mas com a ressalva de que as famílias vão demorar um pouco mais do que as empresas para acelerar. “O percentual de crescimento das vendas para pessoas físicas foi baixo no ano passado. Nossa expectativa é que cresça com mais força no segundo semestre”. Uma das razões para o executivo acreditar nessa aceleração é que a inadimplência está controlada e os juros, muito baixos. “As pessoas terão mais acesso a crédito, que responde por 50% das vendas e deve saltar para cerca de 55%”.

A respeito da fusão global entre o grupo FCA e a francesa PSA, dona das marcas Peugeot e Citroën, Filosa não quis se aprofundar. Limitou-se a dizer que o processo vai demorar pouco mais de um ano e, enquanto isso, ambas as empresas permanecem como estão, totalmente separadas. “Acredito que, na América Latina, haja boas sinergias entre as duas companhias para explorarmos”, comentou, destacando que, em 2019, o grupo FCA vendeu, 4,4 milhões de veículos no mundo, com receita de € 108,1 bilhões e o lucro líquido ajustado de € 4,3 bilhões. Na América Latina, foram comercializados 577 mil veículos – 496,5 mil somente no Brasil –, com receita de € 8,4 bilhões. O volume representa 13,9% das vendas de todas as montadoras na região. A participação de mercado cresceu 1,1% em 2019.

INVESTIMENTOS O resultado das vendas reforçou a aposta da FCA na América Latina, onde a companhia prevê investimentos de US$ 14 bilhões até 2024. O ciclo de aportes teve início em 2018 e cerca de US$ 7 bilhões já foram aplicados na modernização e ampliação da capacidade produtiva nas unidades de Betim (MG) e de Goiana (PE), unidade onde são produzidos veículos da marca Jeep, além da picape Fiat Toro. Segundo Filosa, os recursos foram divididos em 50% para cada unidade. Para a unidade pernambucana, está prevista a montagem de um quarto veículo, com projeto em andamento. A empresa pretende atrair mais fornecedores para as proximidades da planta e assim resolver alguns problemas logísticos. Hoje, há 31 parceiros instalados ao lado da fábrica de Goiana, número que deve chegar a 50. “Além de melhorar a logística, conseguiremos aumentar o índice de nacionalização dos veículos naquela planta de 70% para pelo menos 75%”, diz.

Ainda neste trimestre, a FCA lançará uma versão completamente nova da picape Strada. Entre 2021 e 2022, a empresa pretende colocar no mercado brasileiro dois modelos de SUVs com a marca Fiat. Chama a atenção, porém, a meta de exportação de motores aspirados da fábrica de Betim para a Europa neste ano: 230 mil unidades. No ano passado, foram apenas 23 mil. “E até o final deste ano, também começaremos a produzir nossos novos motores 1.0 e 1.3 turbo, que vão engrossar nossas vendas”, destaca Filosa.