Cenário macroeconômico

Se as eleições não atrapalharem demais, 2018 pode ser o ano de transição da economia. Depois de superar um longo período de prostração, o País voltou a um patamar mais vigoroso de crescimento. Ele poderá, ou não, ter continuidade, a depender do perfil do vencedor da eleição presidencial. O ritmo de recuperação, que ficou mais nítido nos últimos meses, deve se espalhar por mais setores e ganhar força, consolidando o que os analistas têm classificado de retomada “lenta e gradual”. Segundo o boletim Focus, do Banco Central (BC) a mediana das estimativas do mercado indica uma alta de 2,6% no Produto Interno Bruto (PIB), a maior em cinco anos.

Aos poucos, a atividade econômica vai voltando à forma. É como um atleta recuperando suas medidas “normais” após uma temporada de sobrepeso. Primeiro, é preciso se livrar das gorduras adicionais para, então, tornear os músculos. Na economia, o consumo representou a primeira “enxugada”. Uma surpreendente queda da inflação em 2017 (veja as tabelas abaixo) aumentou a renda disponível das famílias e permitiu reduzir mais os juros, estimulando o consumo além do previsto no início do ano. O custo dos empréstimos deve cair, ampliando, tanto o crédito aos consumidores quanto os investimentos.

Em 2018, a variável de investimento deve crescer para 3,7% do PIB, a primeira alta em cinco anos, segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas. Sete dos oito componentes do PIB devem ficar em terreno positivo, ante cinco no ano anterior. “Caminhamos para o nível de crescimento que dá para ter hoje em dia sem gerar inflação, que é de 2,5% a 3%”, diz Luis Otávio de Souza Leal, economista do Banco ABC Brasil. Embora a fotografia mostre um quadro mais saudável, a economia ainda sofre com lesões importantes dos deslizes anteriores. Uma crise fiscal ainda ronda o País e, se não resolvida, pode interromper a trajetória positiva. “Olhando para o curto prazo, esse é o ponto fraco da economia brasileira”, afirma o economista do Itaú Unibanco, Felipe Salles. “Dado que não conseguimos avançar na melhora fiscal, os riscos se tornam maiores, porque nos deixam mais vulneráveis a mudanças no cenário global.”

A fragilidade explica porque a projeção do Itaú Unibanco, de crescimento de 3%, é acompanhada de um risco de baixa. Nem tanto pela conjuntura externa, ainda favorável apesar de gerar mais apreensão que no passado recente. As atenções se voltam para a reforma da Previdência e para o pleito eleitoral. A aprovação de mudanças na aposentadoria em 2018 sinalizaria o primeiro remédio para a doença fiscal, e seria suficiente para confirmar a projeção do banco, superior ao prognóstico médio do mercado. É algo improvável num ano eleitoral, em que os congressistas fogem de pautas impopulares. Aí entra a corrida presidencial, que indicará as chances da aplicação desse remédio em 2019. “O ano de 2018 vai ser um divisor de águas porque indicará qual política econômica prevalecerá”, afirma Marcel Balassiano, pesquisador de Economia Aplicada do Ibre.

Se as urnas derem vitória a um populista, é provável que o desempenho de 2018 acabe se tornando um ato isolado. Se as pesquisas de intenção de voto anteciparem essa tendência, o contágio afetaria já o ano que vem. A vitória de um reformista não encerra os desafios, mas aumenta as chances de o País tirar o melhor proveito de uma janela perversa criada pela recessão dos últimos anos: o grau de ociosidade. Essa folga autoriza uma sequência de crescimento próxima de 3%, sem temor de pressões inflacionárias. “Hoje, o nosso potencial não é 3%, está abaixo disso”, afirma Salles. “Isso significa que a economia estará sobrecarregada? Não, porque ainda tem ociosidade.” Para o longo prazo, faltará avançar em reformas que permitam sustentar um potencial maior de avanço, como uma mudança no sistema tributário. A economia ainda precisa malhar muito para recuperar sua melhor forma.

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