A confluência entre dois movimentos está, literalmente, eletrizando o pregão da B3. De um lado, o interesse dos investidores, tanto brasileiros quanto internacionais, que estão com mais apetite pela renda variável devido às perspectivas de queda dos juros no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. De outro, o movimento de várias estatais que querem seguir a orientação do governo e diminuir de tamanho. Somados, esses dois fatores podem dar uma carga no mercado como não se via há tempos. Até agora, as cinco operações já confirmadas podem movimentar até R$ 22,9 bilhões. Para comparar, a soma de todas aberturas de capital (Initial Public Offerings, ou IPOs) e de ofertas subsequentes (os chamados follow-ons) de 2018 e dos cinco primeiros meses de 2019 somou R$ 19,2 bilhões.

Um dos maiores negócios vai envolver a Petrobras. Ainda em junho, a Caixa Econômica Federal deverá colocar à venda R$ 7,2 bilhões em ações ordinárias da Petrobras que possui em seu portfólio. Além de reduzir seu tamanho, o banco vai reforçar suas reservas de capital. E a própria estatal petrolífera deve colocar à venda R$ 8 bilhões em ações da subsidiária BR Distribuidora.

Para os analistas, é preciso olhar esses papéis com uma dose extra de cuidado. “Os preços do petróleo estão muito ligados ao nível de atividade econômica global”, diz o analista Álvaro Frasson, que está a caminho do BTG Pactual Digital. “Como a economia mundial ainda está sendo afetada pela disputa comercial entre Estados Unidos e China, não se esperam grandes sinais de aquecimento no curto prazo.” Assim, diz o analista, as ações da Petrobras devem ser vistas como uma alternativa de prazo mais longo.

ELETRICIDADE O mercado acredita que a oferta de ações da Neoenergia será bem sucedida diante da expectativa de elevada demanda por parte dos investidores. O IPO vai movimentar pelo menos 208 milhões de ações ordinárias, quantidade que pode ser aumentada em 72 milhões caso a procura justifique a colocação dos lotes suplementar e adicional. “A quantidade de ações da oferta deve atrair grandes fundos, que se preocupam não apenas com a qualidade do ativo, que consideramos boa, como também com a liquidez dos papéis”, afirma um analista que não pode se identificar porque sua corretora participa da oferta.

Álvaro Frasson: incertezas sobre o ritmo de crescimento da economia global pode trazer volatilidade para ações da Petrobras no curto prazo (Crédito:Divulgação)

O preço por ação, que oscila entre um mínimo de R$ 14,42 ou um máximo de R$ 16,89, ainda vai ser definido em processo de bookbuilding. A considerar pelo lançamento anterior da companhia, o teto é mais provável do que o piso. “A oferta de debêntures que a Neoenergia acabou de realizar teve uma procura muito grande, tanto que os investidores não conseguiram comprar a quantidade desejada”, diz o analista. “Tomando como base essa operação, a tendência é que na oferta de ações a procura seja parecida”. Ele afirma que os estrangeiros, que costumeiramente vêem ao país com apetite para participar desse tipo de operação, devem manter a tradição tendo em vista o patamar reduzido dos juros nos mercados desenvolvidos.

Caso a oferta saia no valor máximo e com todos os lotes, ela pode movimentar até R$ 4,7 bilhões. “A Neoenergia já ensaiou uma série de vezes fazer o IPO, e acabava não levando a oferta à diante pelas condições de mercado. Se ela fez isso agora é porque a procura deve estar alta”. Também deve servir como chamariz o bom momento que vive o setor na bolsa por conta das privatizações no radar e da maior previsibilidade que oferece aos investidores na comparação com outros setores.

No ano o índice de energia elétrica (IEE), que reúne os principais papéis do segmento, sobe 25,2%, até o dia 18. No mesmo período o Ibovespa avança 13,1%. “Como a bolsa está próxima da máxima histórica, uma estreante pode ser uma boa alternativa para o investidor conseguir uma rentabilidade interessante”, diz o especialista. Ele afirma ainda que os resultados apresentados pela Neoenergia no primeiro trimestre de 2019 foram considerados fortes e agradaram o mercado, mais uma razão para o otimismo com a oferta.