No programa Shark Tank Brasil, exibido pelo canal fechado Sony Brasil, pequenos e médios empreendedores têm a chance de convencer um quinteto de investidores a se tornar sócios de seu negócio. A atmosfera é tensa e o nível de questionamentos assume ares de inquisição. Mesmo quando “dá match”, a tensão permanece num nível elevado, em função de propostas e contrapropostas, numa sequência que mais parece a rodada final de um jogo de pôquer.

Na noite de 21 de novembro de 2018, a dupla Rodrigo Travi e Hugo Vasconcelos, fundadores da Ledax Energy and Lighting, fabricante de luminárias de LED, passou por lá e sentiu na pele o que é nadar em um tanque cheio de tubarões. “A pressão é grande. Eles tentam te desestabilizar o tempo inteiro”, recorda Rodrigo. Na ocasião, eles conseguiram a promessa de parceria com o megaempresário João Appolinário, dono da rede de lojas e da TV Polishop.

Participar do Shark Tank, porém, não foi a única ousadia protagonizada pelos empreendedores que se conheceram no curso de engenharia elétrica, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). A Ledax surgiu e 2014, como fruto da vontade de Rodrigo, hoje com 33 anos, em dar uma guinada na carreira. Para montar o negócio, ele pediu demissão da Siemens, onde trabalhava fazia quatro anos. Juntou as economias e registrou a empresa. O capital inicial de R$ 30 mil foi suficiente para aquisição da massa falida de uma empresa de iluminação instalada em São Bernardo do Campo (SP).

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Para 2019, a expectativa da Ledax é fechar com receitas de R$ 25 milhões, sendo R$ 17 milhões com a venda de lâmpadas de LED para o mercado corporativo (shopping centers, estádios de futebol e supermercados, por exemplo) e R$ 8 milhões com os contratos assinados pela nova unidade: a Energy Solutions; focada em projetos de geração de energia solar para o segmento de Pequenas e Médias Empresas (PME). Para convencer os potenciais clientes, a dupla montou um modelo de negócio fácil de ser assimilado. A Ledax cuida de todas as etapas: do desenho do projeto, à importação e instalação de painéis e inversores, passando pelo registro dos equipamentos.

“O projeto é estruturado a partir da demanda específica de cada cliente e cobre até 95% das necessidades energéticas”, explica. “Dessa forma, a empresa fica livre das oscilações bruscas da tarifa cobrada pela concessionária”. E por um bom tempo. Afinal, cada equipamento tem vida útil estimada em 25 anos, enquanto a amortização do investimento se dá entre três e quatro anos, a partir da economia gerada na conta de luz.

O custo do projeto está em torno de R$ 4,80 por cada Wp (Watt-pico, medida referente à capacidade de geração de cada painel solar). Segundo Rodrigo, Trata-se de um valor competitivo, especialmente para o segmento PME que, por não ter acesso ao Mercado Livre de Energia, depende exclusivamente das concessionárias. Além disso, está em linha com o custo médio de instalação de uma usina de Microgeração Distribuída, entre R$ 4,00 e R$ 5,00 por kW, cuja potência máxima não pode ultrapassar 100 kW, de acordo com regulamentação da Aneel.

Linha de produção da Ledax

Para viabilizar a nova divisão, eles decidiram transferir a produção para uma área de 3 mil m², no Distrito Industrial de Salvador, situado no Bairro de Pirajá. A unidade começou a operar em março e deverá receber investimentos de R$ 6 milhões nos próximos três anos. Pesou na decisão os incentivos fiscais oferecidos pelo governo local. Na maior cidade da Região do ABC paulista foi mantido um escritório comercial a exemplo dos existentes em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, além de uma representação em Shangai. No total, a Ledax gera 74 postos de trabalho diretos.

Nascido no Rio Grande do Sul e radicado em Salvador há 18 anos, foi conversando com o sogro José Humberto de Souza, dono da rede varejista Hiper Ideal, que Rodrigo enxergou no mercado de iluminação um filão a ser explorado. Ao ler uma reportagem sobre as lâmpadas de LED, José Humberto pediu ajuda ao genro para comprar algumas unidades para instalar em sua casa. “Foi tão difícil encontrar no mercado que decidimos importar um lote da China”, recorda o fundador da Ledax.

A partir daí, ele percebeu que poderia se dar bem investindo seus conhecimentos num negócio com grande potencial de crescimento, uma vez que a eficiência energética se tornou uma obsessão de muitos brasileiros. Colaborou para isso a escalada da tarifa, que subiu 50% acima da inflação no acumulado 1995-2017. Neste contexto, a busca pela redução do custo e a política de diversificação da matriz energética fizeram com que projetos de energia limpa, renovável e barata ganhassem impulso. Quem puxou a fila foi a modalidade eólica, cujo parque instalado já possui uma potência semelhante à da usina Hidrelétrica de Itaipu. “A bola da vez é a energia solar”, aposta o fundador da Ledax.

Para surfar nesta onda, os empreendedores estão de novo na estrada em busca de novos parceiros. “Abrimos uma nova rodada de captação”, conta Rodrigo. Mas, e a grana prometida pelo “tubarão” João Apolinário? “Ainda estamos em fase de ajustes das questões contratuais”, resume o CEO da Ledax.