A França sonha há anos em explorar a energia do mar para produzir eletricidade. Mas os obstáculos são muitos, como mostra a usina maremotriz de La Rance ou recentes desistências de projetos hidrelétricos marinhos.

Uma energia renovável, limpa, que não gera rejeitos e cuja produção é quantificável e previsível. A usina maremotriz de La Rance, na Bretanha (norte da França), atende a todos esses requisitos.

Mas este modelo pioneiro, destinado a produzir eletricidade a partir da força das marés, nunca foi reproduzido na França e muito pouco no resto do mundo.

Inaugurada em 1966, a usina de 240 megaWatts (MW) produz 500 GWh, energia elétrica suficiente para abastecer 250 mil residências. O problema é que sua barragem de 750 metros de comprimento por 33 de largura bloqueia a foz do rio La Rance.

“As trocas entre o estuário e o meio marinho foram completamente bloqueadas, o que teve um enorme impacto ambiental”, explica à AFP Antoine Carlier, ecologista marinho no Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar (Ifremer).

“Estudos mostraram que a biodiversidade voltou, mas os meios estuarinos não deixaram de ser frágeis, e atualmente teríamos muita dificuldade em empreender trabalhos lá”, sustenta Yann-Hervé De Roeck, diretor-geral do instituto de pesquisas francês sobre energias renováveis marinhas France Énergies Marines (FEM).

Este modelo nunca foi reproduzido na França e no resto do mundo, apenas alguns raros empreendimentos saíram do papel posteriormente, entre eles o mais importante, na baía sul-coreana de Siwha.

Apesar disso, a ideia de produzir energia elétrica gerada no mar, uma tecnologia atualmente madura, não foi abandonada e novos projetos surgem, baseados sobretudo na criação de lagos maremotrizes fora das zonas estuarinas. “Ali, o risco ecológico é menor”, afirma Antoine Carlier.

Em um relatório intitulado “Nouveau marémoteur” (Nova energia maremotriz, em tradução livre), divulgado no começo de 2019 pela Sociedade Hidrotécnica da França (SHF), este tipo de energia é considerada como “uma vantagem considerável para a transição energética”. A organização, dedicada à pesquisa hidráulica, estima o potencial técnico explorável no mundo em 1.250 TWh/ano, enquanto a produção efetiva atual não passa de 1TWh/ano, o que corresponde a 0,2% do consumo elétrico anual na França.

– Ondulações e correntes marinhas –

Entre as outras fontes de energia marinha, turbinas submarinas acionadas por correntes também têm dificuldade em deslanchar, apesar de suas vantagens: baixo impacto ambiental, ausência de poluição visual e potencial de geração de 10 GW na Europa – entre 2 e 3 na França.

Mas a tecnologia ainda não está madura. “Há problemas de impermeabilidade, corrosão e manutenção destas máquinas submarinas, que encarecem os custos dos projetos”, explica Marc Le Boulluec, especialista do Ifremer sobre o comportamento de estruturas no mar.

Neste contexto, a empresa Naval Energies, líder mundial em energias renováveis marinhas, anunciou em 2018 a suspensão de seus investimentos no setor. E em 2017, a Engie e a General Electric já tinham jogado a toalha.

Outras tecnologias que visam à exploração da energia dos oceanos, além das ondas e das ondulações (ondomotriz), da diferença de temperatura entre águas profundas e superficiais (energia térmica dos mares), passando pela reação obtida quando a água doce e a água salgada se encontram (homeostática) são estágios ainda menos explorados que as turbinas marinhas.

“Permanecemos confiantes porque o recurso energético realmente é muito grande”, diz, confiante, Yann-Hervé De Roeck, lembrando que os investimentos em nível mundial nestas fontes de energia “não são enormes” por enquanto, em relação aos destinados à energia solar ou eólica. Finalmente, “o homem é mais terrestre que marinho”, acrescenta, com um sorriso.