Em meio a quedas de ações e escândalos de endividamento, o varejo brasileiro segue em marcha lenta. Os rastros da crise são resultados de efeitos da pandemia na economia, com mudança de comportamento do consumidor. A Marisa, por exemplo, entrou na lista das empresas que levaram sustos mais caros: no início do mês, anunciou que pretendia negociar com bancos credores para tentar escalonar dívidas de cerca de R$600 milhões.

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Além da varejista de moda feminina, as empresas Westing, C&A, Via, Renner, Magalu e Arezzo também somam prejuízos na Bolsa, com ações despencando nos últimos 12 meses. 

Mas não somente, também há erros de estratégia das empresas diante de tais mudanças, excluindo um problema estrutural do ciclo do setor. Americanas e seu rombo bilionário é um dos casos que mais saltam aos olhos dessa conduta, com mais de R$40 bi em dívidas para arcar e credores exaltados em meio à recuperação judicial. 

“Não podemos atribuir ao conjunto da economia ou ao setor o problema que acontece com elas. O problema diz respeito a estratégias equivocadas ou problemas estruturais das empresas. No caso das Americanas, fica claro que o problema se arrasta há anos, e não após a pandemia. Marisa e Riachuelo têm adotado estratégias equivocadas: miraram no varejo de vestuários e a partir de 2020, por conta da pandemia, esse segmento ficou afetado pela mudança de consumo”, defende Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica da Fundação Getúlio Vargas.

Gilberto Braga, professor e economista do IBMEC RJ, acredita que o ciclo comum das vendas no varejo tenha sido afetado pelos dois últimos anos, quando o país – e o mundo – vivenciaram a Covid-19 exaustivamente. 

“As empresas de varejo trabalham com planejamento do ciclo de vendas com estoque. Esse ciclo de tempo entre requisitar dos fornecedores e fazer o produto chegar nas lojas para o consumidor comprar e o dinheiro entrar foi modificado [durante a pandemia]. As vendas online decolaram e as físicas ficaram engessadas; esse modelo de loja fez com que muitas delas ficassem obsoletas rapidamente com o fim do coronavírus”, afirma.

Custos

Ele acrescenta que muitas lojas físicas tiveram custos aumentados, e por isso tem problemas como: custeio e manutenção, aluguéis e rotação de estoque, já que parte do comportamento do consumidor não apenas mudou por conta de ter se acostumado com compras através do computador, mas a rotina física dos trabalhadores se modificou. “Isso força um reposicionamento das lojas de comércio”, defende. 

“Em meio a esse movimento, temos períodos de juros muito elevados, e com volta de lojas físicas, parte do que foi desenvolvido no online não rendeu. Existe um novo paradigma, que essas lojas ainda estão tentando entender”, explica o professor. 

Nesse cenário, a altíssima taxa de juros que verificamos em 13,75%, tem impacto no financiamento de bens de consumo. “Na Americanas, por exemplo, o efeito foi grande, por conta da alta participação que o crédito tem nas vendas da empresa. Eletroeletrônicos, por exemplo, são comprados a crédito, e a taxa impacta no valor das prestações”, acrescenta Rochlin. 

Crédito

Com a crise da Americanas, existe um aperto de crédito para os varejistas. As demais lojas, preventivamente, estão reestruturando operações. “Aquele processo de espera, de stand by, mudou. Lojas são fechadas, há corte de pessoal, nova seleção de parceiros para quem funcionam como marketplace, enxugamento de operação e concentração em produtos de maior rotação – que fazem o retorno ser mais rápido e com maior valor agregado”, finaliza Braga.