A reunião sobre o clima em San Francisco termina nesta sexta-feira com uma grande incerteza: os líderes mundiais se sensibilizarão diante da pressão das cidades e regiões do mundo antes do próximo encontro de negociações internacionais, em dezembro?

Milhares de delegados, entre prefeitos, governadores, representantes de ONGs e empresários, se encontraram pela primeira vez na Califórnia, e durante toda a semana foram mais cautelosos que otimistas.

“Nunca estivemos tão necessitados de multilateralismo como na atualidade”, disse Patricia Espinosa, a ex-ministra mexicana para as negociações sobre o clima nas Nações Unidas. “No momento exato em que mais necessitamos disso, põe-se em dúvida a ordem internacional”, acrescentou.

“Vou lhes dizer a verdade”, declarou nesta sexta-feira o ex-chefe da diplomacia americana John Kerry. “Estamos muito longe do objetivo”.

“O perigo não é que não cheguemos, mas que cheguemos tarde demais”, disse aos delegados, enumerando a lista de desastres recentes, em especial os furacões que geraram perdas bilionárias no ano passado, em um momento em que o potente Florence toca a costa atlântica do país.

Os próximos três meses são considerados cruciais por muitos participantes para relançar o acordo climático de Paris de 2015.

Em dezembro, 190 estados signatários se reunirão em Katowice, Polônia, para fixar as regras para a implementação do pacto.

“A energia de Paris se perdeu”, lamentou um dos poucos chefes de Estado presentes na reunião de San Francisco, o húngaro Janos Ader. “O futuro da civilização está em jogo, esta é a mensagem que temos que levar a Katowice”.

“Os governos nacionais chegarão a Polônia impulsados ​​por esta dinâmica”, espera Manuel Pulgar Vidal, responsável de assuntos climáticos da prestigiosa ONG WWF.

Mas os preparativos para este encontro aparentemente técnico estão paralisados, ameaçando deixar em evidência a debilidade do pacto climático.

O método adotado em 2015 é inédito: não se prevê nenhuma sanção para os países. Cada Estado estabelece seus objetivos de redução de emissões, que por enquanto são insuficientes para limitar abaixo de 2°C o aumento da temperatura global antes do fim do século, já que a Terra está a +1°C em relação à era pré-industrial.

A ONU prevê realizar uma cúpula em um ano. “Esta determinará se o acordo de Paris pode ser salvo ou não”, disse David Paul, ministro do Meio Ambiente das Ilhas Marshal, ameaçadas de desaparecer sob as águas do oceano Pacífico.

– CO2 em aumento-

Prefeitos, governadores e outros dirigentes regionais dos Estados Unidos e de vários países da Europa e Ásia afirmaram que eles podem assumir o papel dos Estados, que fracassaram em apressar a transição para a eletricidade e veículos “limpos”.

“O problema está nas cidades, e a solução será nas cidades”, disse o bilionário Michael Bloomberg, um dos grandes patrocinadores do encontro de San Francisco.

“É nas cidades onde se enfrentará a maior batalha”, disse à AFP o prefeito de Quito, Mauricio Rodas, cuja cidade está construindo seu primeiro metrô e prevê restringir aos carros “limpos” o acesso ao seu centro histórico.

Quito, Varsóvia, Buenos Aires e Cidade do Cabo são algumas das cidades que se uniram a Nova York, Londres, Paris, Tóquio e vários estados dos Estados Unidos, como a Califórnia, neste movimento em direção ao “carbono zero”.

Mas as cidades com os objetivos mais ambiciosos e rápidos estão principalmente na Europa e América do Norte, em países onde as emissões já começaram a diminuir há pelo menos uma década.

As emissões de CO2 da China, o maior poluidor do mundo, e do resto da Ásia continuam aumentando. Em conjunto, o mundo continua emitindo cada vez mais CO2.

O objetivo dos próximos anos é deter, finalmente, este crescimento.

“Se não formos capazes de frear a curva mundial de emissões nos próximos dois ou três anos, é muito pouco provável que consigamos limitar o aumento de temperatura abaixo de 2°C”, diz o climatologista sueco Johan Rockström.

Olhem o carvão, sugere: os humanos queimam mais a cada ano.

“Sabendo que, cientificamente, não há nenhuma ambiguidade, não podemos nos permitir perder outros dez anos”, adverte Rockström.

O alto executivo Mats Pellbäck Sharp, diretor de sustentabilidade da Ericsson, acompanha essa percepção. “É hora de agir e deixar de assinar declarações”.