Maior produtor e exportador e segundo maior consumidor de café no mundo, é quase impossível não reconhecer seu cheiro tão característico na mesa do brasileiro. Presente durante o café da manhã, da tarde e em diversos momentos durante o dia, o grão acaba de alcançar internamente a segunda maior safra da história, estimada em 61,6 milhões de sacas de 60 kg. Crescimento de 25% em comparação com a safra de 2019 e muito perto do recorde de 61,7 milhões de sacas, registrado na safra de 2018. De olho nesse crescimento e buscando expandir sua presença pelo País, o Grupo 3 Corações, líder nacional nos segmentos de café torrado e moído e cappuccino e vice-líder nacional em café solúvel, foca na expansão.

Este ano, a companhia assumiu o controle da Mitsui Alimentos, que possui 3,8% do mercado de café do País, por R$ 216 milhões. Com isso, passa a deter as marcas Café Brasileiro, Gold (especial), 3 Fazendas, Premiado, Café Superior e Bandeira, além da linha de solúveis, achocolatados, cápsulas e drip coffee, e fortalece sua presença no centro-oeste brasileiro. A ação garante a incorporação de mais duas fábricas de café torrado e moído, em Mato Grosso e São Paulo, e um centro de distribuição, no Mato Grosso do Sul. Além da expansão via aquisições, a marca aposta no crescimento do portfólio.

“Teremos um ano com lucro pouco abaixo do que o planejado, mas sairemos bem dessa pandemia” Pedro Lima fundador do Grupo 3 Corações. (Crédito:Divulgação)

O grupo anunciou, também este ano, uma joint venture com a cearense Positive Brands, que tem como principais marcas A Tal da Castanha, líder no mercado de bebidas de origem vegetal, e o Jungle, o primeiro isotônico natural e orgânico do Brasil. Para o presidente do grupo 3 Corações, Pedro Lima, existe uma sinergia extraordinária nessa união. “A correlação do café com o leite vegetal nos dá grandes oportunidades de criação de produtos”, disse Lima. A joint venture dá ao grupo 50% do capital total da Positive Brands, além de participação no conselho administrativo.

Para a companhia cearense, que possui market share de quase 40% nas regiões Norte e Nordeste e de quase 50% no Sudeste, a união traz visibilidade para os produtos orgânicos. “Ganhamos capilaridade e passamos de 4 mil para 400 mil pontos de venda”, afirmou Rodrigo Carvalho, sócio-fundador da Positive Brands. Em 2019, a empresa apresentou faturamento de R$ 29 milhões e espera crescimento de 70% para os resultados deste ano, que devem alcançar os R$ 49,3 milhões. A projeção para 2021 é ainda maior – de R$ 75 milhões –, segundo Carvalho. Fruto dos resultados da parceria com a gigante cafeeira 3 Corações. “Essa parceria tende a crescer e a lançar novos produtos, promovendo uma mudança na maneira como as pessoas se alimentam”.

Para o consultor de varejo e CEO da Varese Retail Alberto Serrentino, a companhia está indo pelo caminho certo. “O Grupo 3 Corações é muito forte e está seguindo na cultura de incorporação de negócios”, afirmou Serrentino. “Grandes grupos de alimentos do cenário mundial cresceram muito por meio dessa cultura, que aposta na diversificação e aquisição de marcas.” A escolha pelo segmento de produtos saudáveis, clean label e antioxidantes parece ser uma opção certeira.

Para a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o setor ganhou força após o crescimento na busca por uma alimentação mais saudável durante a pandemia e deve apresentar crescimento maior do que os 10% inicialmente esperados. A expectativa para 2021 é de que o segmento ultrapasse R$ 5 bilhões em faturamento. Segundo o diretor da associação, Clauber Cobi Cruz, é um caminho sem volta. “Esse crescimento deve ficar, porque é mais consciente e está acompanhado de uma mudança de mentalidade”, disse.

IMPACTOS AMORTECIDOS Com um primeiro semestre mundialmente atípico, o setor cafeeiro não ficou de fora, mas teve os impactos amortecidos devido à bienalidade positiva do ano – em anos pares, a safra costuma ser maior do que em anos ímpares. Mesmo permanecendo ativo durante a pandemia, com as indústrias operando normalmente e o varejo tradicional – principal canal de distribuição – aberto, as vendas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), sofreram queda. “O impacto foi grande, principalmente porque o consumo doméstico não compensa totalmente a ausência do consumo fora do lar”, afirmou o presidente da associação, Ricardo de Sousa Silveira. Em contrapartida, as novas formas de preparo e de consumo da bebida abriram espaço para o público jovem, que está consumindo mais e possui maior interesse com propósito de marca. Segundo a Abic, o resultado desse interesse é o aumento de 300% no mercado de café premium nos últimos quatro anos. Esse interesse em maneiras de preparo e inovação aproximou ainda mais o consumidor da bebida, principalmente durante a pandemia. Os hábitos do brasileiro em relação ao café podem até mudar. Nunca esfriar.