Introduzir vinho, chocolate ou café na China pode ser ainda mais difícil a partir de sábado (1º), com novas regras de importação que impedem as empresas internacionais de colocar alimentos e bebidas no maior mercado do mundo.

Os consumidores chineses consumiram US$ 108 bilhões em produtos importados em 2020, um número que deverá aumentar em 2021, ante um aumento anual de 30% nos três primeiros trimestres deste ano.

+ Chinesa Huawei anuncia queda de 29% em receita esse ano

Mas, de acordo com as novas leis a serem implementadas em 1º de janeiro, todos os produtores de alimentos exportados para a China terão que se registrar na alfândega, uma nova barreira para empresas internacionais que costumam reclamar de tratamento injusto.

Antes, esse requisito só era necessário para produtos com potencial risco à saúde, como marisco.

Mas café, álcool, mel, azeite, chocolate e outros alimentos também serão fiscalizados agora.

No dia de Ano Novo, “a cortina de importação se fechará”, disse à AFP Alban Renaud, advogado que trabalha na China com o gabinete Adaltys.

Mas há muitas incógnitas: “Haverá margem de tolerância? O que acontecerá com os pedidos em andamento, mas ainda não aprovados? E com aqueles que o solicitaram tarde demais?”

Um empresário envolvido com importação explicou à AFP que uma certificação é necessária porque, “caso contrário, a mercadoria chegará ao porto e haverá que pagar multas”.

As empresas sem a papelada preenchida podem ser expostas à retenção na fonte pela alfândega, alertou.

Os importadores reclamam que os detalhes dos novos pedidos foram publicados com atraso e que o site para registrá-los só entrou no ar há um mês.

Além disso, as informações não estavam disponíveis em inglês. Algumas empresas receberam o código de país errado, como um importador português registrado como espanhol, disse um diplomata em Pequim à AFP.

As empresas de alimentos e de importação já estão expostas a medidas de controle incluídas no estrito protocolo anticovid da China, desde que um surto em Pequim em 2020 foi atribuído ao salmão importado.

Os produtos que entram no gigante asiático estão sujeitos a maior inspeção e desinfecção repetida. Alguns são proibidos se um surto for detectado no local onde foram embalados no exterior.

A Organização Mundial da Saúde garantiu que as chances de espalhar covid-19 por meio dos alimentos são mínimas.

Dias antes de os novos requisitos entrarem em vigor, “muitas empresas ainda estavam esperando para obter sua autorização”, disse a Câmara de Comércio da União Europeia em Pequim.

Esta entidade “instou as autoridades chinesas a conceder essas autorizações a tempo (…) para permitir a todas as empresas qualificadas uma transição suave sem sofrer perturbações nas suas importações de alimentos”.

A União Europeia pediu formalmente a Pequim que adiasse a medida por 18 meses, mas não teve sucesso.

Se esses problemas não forem resolvidos logo, o fluxo de importação de alimentos para a China pode começar a sofrer em um mês, comentou um diplomata em Pequim à AFP.

O departamento de alfândega da China não respondeu às solicitações da AFP sobre este assunto.

“Os primeiros produtos dos países exportadores a chegar à China no dia 1º de janeiro virão da Coreia e do Japão”, disse outro diplomata.

“Por isso, serão os nossos amigos que terão o privilégio de testar a espessura do muro”, comentou ironicamente.