“A pandemia acabou abrindo caminhos, mas destruindo oportunidades em todas as camadas da sociedade.” Este é o resumo da catástrofe que a pandemia da covid-19 proporcionou no mercado de trabalho brasileiro, segundo Lucas Mendes, cofundador da Revelo, maior plataforma de recrutamento e recursos humanos da América Latina.

E pesquisas confirmam a tese de Mendes. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgados hoje mostram que a crise do covid-19 gerou a perda do equivalente a 11 milhões de postos de trabalho no Brasil – o que inclui as pessoas que foram demitidas, as que abandonaram o mercado de trabalho e as que tiveram suas cargas de trabalho reduzidas.

O executivo foi o convidado da live da IstoÉ Dinheiro nesta segunda-feira (25). Na entrevista, ele falou sobre a crise do emprego provocada pela pandemia do coronavírus e os desafios do mercado de trabalho no Brasil em 2021.

O cenário turvo do mercado do trabalho no Brasil pode ser mais sofrido quando observado do ponto de vista da renda, segundo a OIT. Os trabalhadores de baixa e média qualificação viram suas rendas caírem mais (28%) do que os mais qualificados (17,9%).

Ao certo, ainda segundo a OIT, os trabalhadores em ocupações de média qualificação (administrativos, de serviços e de vendas, agrícolas, artesanais e afins, e trabalhadores de máquinas e instalações) e de baixa qualificação sofreram perdas comparativamente maiores na renda do trabalho, na relação com os altamente qualificados.

Qualificação é a palavra chave para analisar o cenário de empregos, segundo Lucas Mendes. Ele diz que em “nenhum lugar do mundo as empresas reclamam tanto que é difícil recrutar trabalhadores como no Brasil”.

Na entrevista, o executivo revela as exigências do mercado e chama atenção para um fato curioso que vem ganhando força no Brasil, que é a tendência das empresas começarem a dar mais importância para profissionais que vem se “reinventando” em cursos técnicos profissionalizantes de requalificação, deixando de lado os antigos “canudos” universitários.

Essa mudança de perfil na formação profissional, segundo ele, pode ser uma tendência. “As pessoas, cada vez mais, estão tendo múltiplas carreiras”, avalia.

O executivo da Revelo afirma que os profissionais de áreas ligadas à carreiras digitais que se qualificaram ou se reequiparam durante a pandemia não estão tendo dificuldades de colocação no mercado de trabalho.

Segundo ele, essas oportunidades estão acontecendo em empresas de todos os tamanhos, da pequena empresa, à familiar ou startups aos grandes negócios. “As empresas estão buscando profissionais digitais com maior intensidade. O volume de contratações em carreira ligadas à tecnologia no mercado cresceu mais de 10%”, afirma. “A gente tá falando de todo um ecossistema de carreira digitais, não só de programadores, mas gente do design, marketing…”

Na entrevista, o cofundador do Revelo fez outras observações interessantes sobre tendências no mercado de trabalho brasileiro como o aumento da renda desses trabalhadores do segmento digital.

Segundo ele, para espanto dos empresários, a média salarial do primeiro trimestre do ano passado agora subiu mais de 20% para esses profissionais de tecnologia. “Aumento bastante significativo. Sintomas de um mercado altamente aquecido que deve continuar nessa tendência”, avalia.

Ainda no bate-papo, ele falou sobre as relações trabalhistas e flexibilização das relações de trabalho. “O Brasil é um país, pelo menos em teoria, bastante generoso no suporte ao trabalhador” – e apontou outro fato importante surgido em função da pandemia que o trabalho a distância e o home office.

“Muitas empresas do exterior estão contratando trabalhadores brasileiros em projetos pontuais”, disse. “Vejo com positivo, não só porque essas pessoas vão ter um mercado de trabalho diferente para trabalhar e maior, como também esses impactos positivos sobre a renda dela.”

Então, diz ele, “acho que nunca foi tão importante o profissional brasileiro dominar o inglês e o Espanhol. Isso efetivamente abre portas.”