Diante da completa desorientação do governo federal frente à pandemia, empresários e economistas de diversas matizes começam a articular um movimento cobrando ação uniforme, articulada e firme com respostas mais eficazes de ofensiva sanitária. Na prática, a iniciativa isola e tira do presidente o papel de protagonista nesse processo. Além de uma carta com mais de 1500 assinaturas entre os players de maior destaque na cena nacional, os representantes do PIB procuraram conversas com os presidentes da Câmara e do Senado para traçarem estratégias. Em um jantar fechado se prontificaram a participar de cada um dos estágios, da logística à aquisição de vacinas. É o primeiro passo para um pacto realmente relevante. Em resposta, o presidente Bolsonaro entendeu tudo ao contrário. Disse que não estava plenamente convencido de mudar seu discurso contra a pandemia, queixou-se de ser pressionado por esses setores e saiu-se com uma pérola: “Vamos destruir o vírus e não atacar o governo”. A predisposição federal para tirar o corpo fora de qualquer mobilização pelo que interessa surpreende. Há uma crença lapidada no mandatário de que apenas a reeleição interessa e que tudo mais conspira contra esse seu plano. Na busca de uma tábua de salvação, o presidente procurou o ministro Paulo Guedes para afinar o discurso de ambos e encontrar argumentos para rebater as críticas à condução da pandemia. A pasta da Economia lançou mão de um conjunto de dados econômicos, em diferentes momentos, para reforçar a ideia de que o governo está fazendo a sua parte. Tratou de vagas de empregos formais, resultados do fisco e da atividade econômica. Em determinado momento pareceu estar se tratando de outro País. A tortura das estatísticas não esconde a realidade. O Brasil ainda é o país recordista em desemprego, um dos únicos que não irá crescer o suficiente para recuperar o baque tomado e também aquele no qual as taxas de inflação e de juros voltaram a embicar para cima, de maneira acelerada. Bolsonaro defende que — não fosse a pandemia — o Brasil estaria voando. Economistas contrariam a tese e lembram os resultados já deficitários de antes da crise. No plano da Saúde, no momento, persistem alertas de falta de oxigênio, de medicamentos, de vacinas, de estrutura mínima suficiente para atacar o mal maior. E é aí que entram os empresários. O governo parece mais preocupado em olhar para o retrovisor e defender um trabalho que não o exime das falhas em curso. O evidente impacto do agravamento da pandemia rebate não apenas na economia como também em sua própria gestão, com possíveis reflexos nas urnas. Empresários e economistas estão a cobrar a resposta em vacinas porque perceberam, desde logo, que sem os imunizantes não iremos sair desse atoleiro. Como fazer, o que fazer, vem sendo finalmente estruturado — e é bom que seja logo.

Carlos José Marques, diretor editorial