Em 1958, o magnata Nelson A. Rockefeller avisou a seus acionistas que renunciaria à presidência do maior império empresarial americano para se candidatar ao governo de Nova York. À frente de uma administração vanguardista para a época, o empresário seria reeleito outras três vezes governador do principal centro financeiro dos Estados Unidos. Comuns em economias maduras, personagens como Rockefeller ainda não fazem parte da história política brasileira. 

 

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Mas a pujança da economia nacional dos últimos anos tem alimentado um fenômeno parecido. Nunca tantos empresários se dispuseram a trocar o mundo dos negócios pelos palanques como nas eleições de 2010. Com 3.065 candidatos, 16% a mais que em 2006, a classe empresarial é a mais representada entre as ocupações declaradas pelos 21.760 concorrentes no dia 3 de outubro. 

 

Somados, empresários, comerciantes, produtores agropecuários e industriais representam 14% das candidaturas, mais do que advogados e deputados – os chamados políticos profissionais –, com 1.316 e 1.093 candidatos, respectivamente. O que os leva a abdicar de carreiras de sucesso para investir tempo, dinheiro e as próprias reputações no inóspito mundo da política?

 

Assim como as aspirações e demandas do setor empresarial são muitas, também são variadas as motivações de empresários candidatos. Em comum, avaliam que o Brasil, com uma dose de visão empresarial, pode vencer os gargalos estruturais para finalmente crescer de forma vigorosa e sustentada. 

 

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Mostram-se também convencidos de que a agenda empresarial congrega interesses nacionais, como melhoria na educação pública, nas relações de trabalho e na deficiente infraestrutura. Alguns deles buscam ainda um contraponto ao que consideram o excessivo avanço dos sindicalistas nos últimos anos, com o governo do PT.  “Temos uma agenda que não é corporativa. Ela se confunde com a própria agenda do País”, disse à DINHEIRO Armando Monteiro Neto, presidente licenciado da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no terceiro mandato de deputado federal e agora concorrendo a uma vaga no Senado. 

 

Candidato ao governo paulista, Paulo Skaf liderou a bem sucedida cruzada contra a CPMF, em 2007, à frente da Federação das Indústrias de São Paulo. Há ainda quem queira preencher a lacuna das promessas não cumpridas pela classe política. “Nós apoiávamos alguns candidatos para essa missão, mas não cumpriam o prometido”, relata o deputado goiano Sandro Mabel, fabricante de biscoitos que disputa a reeleição.

 

Em geral, os empresários que se lançam à carreira política se dizem frustrados com o modelo de desenvolvimento e com a cultura política brasileira. Querem a legitimidade dos mandatos nas urnas, mesmo quando são coadjuvantes ou suplentes, para serem ouvidos em Brasília. 

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O vice-presidente José Alencar, dono da Coteminas e parceiro do presidente Lula nos dois mandatos, usou e abusou do microfone para combater a política dos juros altos do Banco Central, que considera nociva ao setor industrial. Não deu certo, mas fez dele o maior arauto dos empresários no governo. 

 

Seguindo seus passos, Guilherme Leal, fundador da Natura, aproveita o palanque para defender a economia verde. Candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, Leal é o candidato mais rico do País, com patrimônio declarado de R$ 1,2 bilhão. 

 

A campanha do PV tem ainda Ricardo Young, dono da Yázigi, escola de línguas com mais de 350 franqueados em todo País, e candidato ao Senado em São Paulo. Young prega a sustentabilidade ambiental como novo modelo de desenvolvimento. “É a agenda do século 21”, afirma.

 

O fato é que a política abre portas para os empresários defenderem interesses setoriais. O deputado paranaense Alfredo Kaefer, maior produtor de ovos férteis do País, faz campanha para influir nas políticas públicas do setor. “Precisamos de uma política agrícola bem definida. 

 

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Veja quanto perdemos com a apreciação do real”, afirma. A simples oportunidade de pisar no Legislativo e deixar uma marca é suficiente para motivar empresários a ocuparem suplências de candidatos ao Senado. Segundo “reserva” do ex-governador do Amazonas Eduardo Braga, Lírio Parisotto, administrador de um fundo de investimento com patrimônio de R$ 2,4 bilhões e dono da Videolar, acredita ter chances de assumir o mandato. 

 

Sua bandeira: a perenização da Zona Franca de Manaus. “98% das florestas do Amazonas ainda estão de pé porque a população tem acesso a empregos gerados na indústria instalada no polo”, argumenta. 

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Empresários também são atraídos às suplências pela capacidade de ajudar a financiar a corrida ao Senado. Caso do banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, suplente do democrata César Maia, que disputa o Senado pelo 

 

Rio de Janeiro, dono de um patrimônio de R$ 564 milhões. Ou do empresário piauiense João Claudino, fundador do Armazém Paraíba, quinta maior rede varejista do País. Ele gastou R$ 2,7 milhões para eleger senador o filho João Vicente Claudino, em 2006. Agora, ele próprio é candidato a suplente de Ciro Nogueira no Senado, pelo PP.

 

Há uma vantagem em poder financiar a própria campanha. Candidato ao governo de Mato Grosso, Mauro Mendes tem como companheiro de chapa o empresário Otaviano Pivetta, produtor rural e ex-prefeito de Lucas do Rio Verde. 

 

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Juntos, estimam custear do próprio bolso metade dos R$ 19 milhões estimados para a campanha. “Dinheiro não ganha eleição. O que ganha é conceito”, ressalta Pivetta. 

 

Fundador da Viação Itapemirim, o empresário Camilo Cola se elegeu deputado gastando, segundo sua declaração, R$ 387 mil do próprio bolso. O cientista político Luiz Flávio Testa, da Universidade de Brasília, avalia que, com o crescimento da economia, nada mais justo do que a classe empresarial buscar mais espaço no Legislativo. 

 

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“Durante muito tempo, financiavam campanha de aliados, mas perceberam que isso não era tão vantajoso”, avalia. Ele lembra, porém, que um empresário de sucesso não alcançará, necessariamente, todas as ambições políticas. Caso de Nelson A. Rockefeller, que sempre sonhou ser presidente, mas amargou a vice de Gerald Ford.