Retomada do crescimento, inflação em baixa, níveis de emprego em alta, explosão de investimentos. Do ponto de vista macroeconômico, 2000 já está consagrado como o ano da nova arrancada do País, o primeiro de uma era virtuosa. Para os brasileiros que carregam junto ao seu nome o adjetivo empreendedor, entretanto, trata-se de apenas mais um período em que a ordem foi apostar, acreditar e produzir, como têm feito regularmente, chova ou faça sol. São eles os principais responsáveis pelos indicadores positivos, os protagonistas da temporada de boas notícias. Cinco deles, ganham, nas próximas 22 páginas, uma merecida homenagem de DINHEIRO. Eugênio Staub, presidente da Gradiente, Abilio Diniz, do grupo Pão de Açúcar, Jorge Gerdau Johannpeter, da Gerdau, Fernando Xavier Ferreira, da Telefonica, e Roberto Setubal, do Banco Itaú, estiveram nos últimos meses à frente de alguns dos mais espetaculares exemplos de sucesso empresarial.

eugênio staub

 

Os números comprovam a tese de Piva. Uma projeção indicava, para a NGI, um faturamento de US$ 150 milhões no ano 2000. ?Erramos feio?, diz Staub. Ainda bem. Este ano, a NGI vai faturar US$ 1,1 bilhão e tem 60% do mercado nacional de celulares. ?Só o futuro vai dizer se saímos na hora certa?, afirma Staub. Ele acredita que sim. Até porque os US$ 415 milhões arrecadados com a venda de sua parte na NGI deixaram a Gradiente numa situação absolutamente confortável. A dívida de US$ 185 milhões, que Staub garante jamais ter lhe tirado o sono ? ?Deito na cama e depois de 30 segundos estou dormindo? ? mas engessava a empresa para novos saltos, está resolvida. Do total, US$ 85 milhões são de curto prazo para ser pagos em maio do ano que vem. O restante é em eurobônus, que vencem em junho de 2002.

Agora, com o caixa recheado, a Gradiente está a todo vapor na operação dos novos projetos. Boa parte deles já estava em andamento. É o caso do DVDokê, um aparelho de karaokê em DVD, que foi lançado na semana passada. Além do produto, a Gradiente criou uma editora de videodiscos digitais para karaokê e tem exclusividade sobre os direitos autorais para o formato DVD no País. ?Se amanhã a Philips quiser lançar um aparelho igual, o DVD que vai tocar será o nosso?, afirma Staub. O projeto do portal de voz também vinha sendo tocado, mas tudo fica mais fácil e rápido quando se está capitalizado ? somente com o trabalho de uma consultoria americana a Gradiente gastou US$ 1 milhão. O passo seguinte foi comprar tecnologia de uma das melhores empresas do mundo em reconhecimento de voz, que fica no Vale do Silício, na Califórnia. O portal funciona em um prédio branco, com muro azul, ao lado da Gradiente, na região da Av. Faria Lima, em São Paulo. ?É uma startup, cheia de gente jovem do tipo que vai trabalhar de bicicleta, de patinete?, conta ele. O projeto do portal de voz tem um sabor especial para o empreendedor. À frente dele está Eugênio Staub Filho, 29 anos, que após passar três anos estudando nos Estados Unidos, está de volta à Gradiente desde o ano passado (leia quadro).

Staub não esconde o orgulho que sente do filho, superintendente de desenvolvimento corporativo do grupo. ?É um executivo bem preparado, que poderia estar em qualquer grande empresa de primeira linha do mundo.? E é essa a posição que Staub quer para a Gradiente. ?Nós somos agressivos, antecipamos lançamentos mundiais e estamos sempre atrás de qualidade.? Para transformar a frase em um verdadeiro lema da companhia, Staub criou o Instituto Genius, um centro de desenvolvimento de novas tecnologias digitais que está sendo construído em Manaus. Sua principal parceira no projeto é a ex-sócia Nokia, que, como parte da negociação na NGI, concordou em desembolsar US$ 50 milhões no Instituto. Cientistas e pesquisadores de todos os cantos do Brasil estão sendo recrutados para se juntar ao Genius, uma sociedade civil sem fins lucrativos. Mas que já chama atenção de outras companhias, dispostas a também cacifar a aposta de Staub nos cérebros brasileiros.

O projeto Genius é o que mais entusiasma o empresário. ?Ele muda o futuro da Gradiente?, diz. Ultimamente, sempre que fala em futuro, a palavra aposentadoria também tem vindo à mente de Staub. Afinal, essa é a história de um homem que sabe que é feito de carne e osso e que se recusa a aceitar a definição de empresa de um homem só para a sua Gradiente. ?Já escolhi o dia da minha aposentadoria?, afirma. Se ele seguir os padrões americanos, Staub deixa a empresa aos 65 anos. E vai fazer o quê? ?Ah, muitas coisas?, promete o homem que não tira férias, nunca andou num transatlântico, não tem fazenda, nem casa na praia. Após alguns momentos pensando numa alternativa criativa, Staub cita três, sendo duas ligadas a trabalho. Além de um cruzeiro ?rápido?, ele irá presidir o conselho da Gradiente e continuar o seu trabalho junto ao Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que reúne parte do empresariado brasileiro e do qual é presidente. ?Quando falo em aposentadoria, não estou dizendo que vou parar com tudo o que faço. Só acho que a minha missão agora é a de um treinador e não mais de um jogador.? Essa é a história de um jogador que vale por um time inteiro. Essa é a história de Eugênio Staub.

NOVA GERAÇÃO À VISTA

A Gradiente do século 21 traz sangue novo dos Staub na sua gestão. A partir de 1º de janeiro de 2001, Eugênio Filho, herdeiro do fundador e presidente da empresa, ganhará mais atribuições na administração da empresa, em que já responde pela área de recursos humanos e pelo marketing corporativo. Com 29 anos e formação que lhe garantiria posições de destaque em qualquer companhia de porte ? durante três anos ele cursou um MBA na conceituada Duke University, nos Estados Unidos, e, ao se juntar à Gradiente, rejeitou uma proposta do banco de investimento Goldman Sachs ?, ele passa a ser responsável também pela área financeira do grupo. ?O Eugênio me fez uma oferta e eu aceitei?, diz. Staub Filho acha que é difícil trabalhar com o pai, mas acredita que terá problemas em dividir as decisões da companhia com o ?seu? pai. ?Nós somos muito unidos e temos um jeito parecido de encarar o mundo?, diz o jovem Staub, que começou a freqüentar os corredores da Gradiente aos 12 anos, em um estágio de férias.

De fato, o filho tem o mesmo faro do pai para novos negócios e o projeto do portal de voz é o melhor exemplo disso. O desenvolvimento de produtos e serviços com tecnologia de reconhecimento de voz é um dos assuntos do momento no mundo. ?A Gradiente tem grandes chances de ser a primeira empresa brasileira a lançar esse sistema, no primeiro trimestre do ano que vem?, diz Eugênio Filho. Ele aprendeu com o pai que ser o primeiro pode fazer a diferença, ainda mais quando a briga é com multinacionais. Basta lembrar que a Gradiente foi a primeira empresa brasileira a lançar produtos como o videogame, o telefone celular, o CD Player, o DVD. ?Isso mostra que temos uma empresa antenada?, afirma Staub Filho. E quanto a uma possível sucessão? Ele ainda acha cedo para falar sobre isso. ?Como filho, eu me preocupo com o ritmo de trabalho do meu pai e acho legal saber que ele está se programando para daqui há alguns anos aproveitar um pouco mais a vida.? Staub, o pai, tem a mesma preocupação em relação ao filho, que passa cerca de 12 horas na Gradiente. Ele vive dizendo ao filho: ?Não faça como eu, não exagere no trabalho?.

Andrea Assef

Esta é a história de um gigante. Não falamos aqui do 1,90 metro de altura do empresário Eugênio Staub, dono da Gradiente, e eleito por DINHEIRO ?O Empreendedor do Ano?. A verdadeira altura de Staub só pode ser medida quando ele está em ação no mundo dos negócios. E nesses momentos, Staub é muito maior do que isso. O gigantismo dele está em lances como investir US$ 10 milhões numa fábrica de celulares e depois de três anos receber US$ 415 milhões pela venda de sua participação para a finlandesa Nokia.

A transação, concluída em novembro passado, foi definida pelo próprio Staub como a maior tacada de sua vida. O que faz dele um gigante é o fato de não se acovardar diante de desafios, como a entrada da Gradiente no competitivo mercado de celulares ou a concorrência com impérios multinacionais como Philips e Ericsson. Nessa disputa, o Davi se fez Golias e a Gradiente, uma empresa 100% nacional, é hoje uma das maiores do setor de eletroeletrônicos, com um faturamento de R$ 1,6 bilhão este ano. Afinal, quando olha para os lados, Staub se vê sozinho. Pois esta também é a história de um capitão da indústria nacional que viu boa parte da fragata das empresas brasileiras naufragar sob o mar revolto da abertura de mercado. E sob o mesmo temporal, ele conseguiu conduzir a Gradiente para mares mais tranqüilos.

Aí vem a pergunta: por que ele também não sucumbiu? A resposta pode estar na inquietação natural de Staub. Em vez de deitar sobre os louros e os dólares do negócio com a Nokia, ele quer começar tudo de novo. ?Vamos reinventar a Gradiente?, diz o empreendedor. ?Tenho uma equipe das mais afiadas para isso.? Uma das estratégias de Staub é a entrada no segmento de serviços. Ele sabe que a convergência digital que une a informática às telecomunicações vai tornar obsoleta a empresa que não entrar nessa nova onda. Surfando nela, a grande novidade da Gradiente é o portal de voz, um serviço inédito no Brasil que funciona como o Wap (que é o envio de informações da Internet pelo celular), só que através de um sistema de reconhecimento de voz. Em vez de usar a tela do celular para ler e enviar mensagens via Internet, o usuário vai ligar para um computador que estará numa central da Gradiente. ?Trata-se de uma novidade internacional. Nos Estados Unidos está apenas começando?, afirma Staub.

 

 País, transformando suas companhias em paradigmas para os setores em que atuam. Eles são os ?Empreendedores do Ano?.