Na segunda partida da Copa neste domingo (24), depois de estar em vantagem no placar duas vezes, Senegal sofreu, aos 32 minutos do segundo temp,o o gol que definiu o empate por 2 a 2 com o Japão. O resultado, porém, não desanimou a torcida senegalesa.

Com 4 pontos no Grupo H, a seleção do Senegal depende só de si mesma para avançar às oitavas de final. Por essa razão, cerca de 60 senegaleses reunidos em um quiosque em Copacabana demonstravam confiança após assistirem à partida com muita música e animação. São moradores de diversos bairros da capital fluminense.

 Senegaleses se reúnem na praia de Copacabana para torcer por sua seleção na partida entre Senegal e Japão, Copa do Mundo na Rússia.

Em um quiosque de Copacabana, senegaleses comemoram gol de sua seleção (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

A festa atraiu olhares curiosos de quem passava pelo local. O que estava em jogo, porém, não era só o futebol, disse o engenheiro e professor Mamour Sop Ndiaye, que mora há cerca de 20 anos no Brasil, onde fez mestrado e doutorado. Ele destacou o trabalho de Aliou Cissé, único treinador negro presente na Copa da Rússia. Cissé é também o mais jovem e o que recebe o menor salário. “É algo para se questionar”, disse Mamou, lembrando que Senegal e Tunísia são exceções entre as seleções africanas, que apostaram em técnicos estrangeiros.

“Quando se trata de África, é algo que vai muito além do jogo de futebol. As nossas seleções geralmente têm treinadores europeus. E veja como o Brasil tem uma característica típica de futebol. Isso é o que fez do país uma potência que se tornou pentacampeã do mundo.” Para Mamou, a característica marcante do futebol africano é a habilidade dos jogadores e, assim, as seleções do continente não serão bem-sucedidas se forem organizadas com o olhar de quem persegue o rigor tático de um jogo de basquete.

“Como imaginar que a África pode ser campeã sendo conduzida pela cabeça dos outros? Quando entramos em campo, há toda uma questão de representatividade, de superação, da importância de mostrarmos nossa identidade. Quem somos e quais valores que defendemos? A Copa de Mundo é uma grande oportunidade. Metade da população mundial viu hoje pela televisão o Senegal jogando bola, liderado por um treinador senegalês. Ganhando ou perdendo, é melhor que seja dessa forma”, afirmou.

Comunidade

A população senegalesa no Brasil não é pequena e vem crescendo nos últimos anos. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, entre 2000 e 2014, foram assinadas 4.096 carteiras de senegaleses residindo no Brasil. No entanto, o número de imigrantes é bem maior, pois muitos são absorvidos pelo mercado informal, o que dificulta a elaboração de estatísticas. O último relatório Refúgio em Números, divulgado em abril pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), mostra que no ano passado 1.221 senegaleses pediram reconhecimento da condição de refugiado, o que representa 4% do total de pedidos e deixa a nacionalidade na sexta posição.

No Rio de Janeiro, eles cultivam um senso de comunidade e buscam criar um ambiente propício para a inclusão dos compatriotas que chegam ao país. Por meio das redes sociais, são organizados encontros, assim como ocorreu com a mobilização para assistir ao jogo de hoje. Os torcedores, muitos vestidos com roupas típicas nas cores da bandeira do país, cantavam músicas locais e também algumas em português, como o refrão: “Eu sou Senegal, com muito orgulho, com muito amor”.

O carinho com o Brasil se manifesta na expectativa de uma final inédita, já que nunca uma seleção africana chegou à decisão da Copa do Mundo. “Os brasileiros nos receberam muito bem. São muito legais. Queremos chegar à final com o Brasil. Seria especial”, diz a empresária Sokhna Ndiaye, esposa de Mamour.

Segunda vez

Senegal participa de um Mundial pela segunda vez. Na primeira, em 2002, a seleção surpreendeu e chegou às quartas de final, quando foi eliminada pela Turquia por um placar apertado de 1 a 0. Desta vez, os torcedores estão confiantes em ir mais longe e contam com a liderança do atacante Sadio Mané, que, junto com o egípcio Mohamed Salah e o brasileiro Roberto Firmino, levou o Liverpool à final da Liga dos Campeões da Europa neste ano.

Ahmed Tidiane Mbemgue, durante partida entre, Senegal e Japão na Copa do Mundo na Rússia, na praia de Copacabana no Rio de Janeiro.

Ahmed Tidiane Mbemgue, que vive há quatro anos no Brasil, acompanha empate entre Senegal e Japão (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

“É o nosso jogador que mais se destaca, é o capitão da nossa seleção. Estamos vendo nele uma liderança positiva, que motiva a equipe”, diz Ahmed Tidiane Mbengue, que há quatro anos chegou ao Brasil para estudar e buscar uma formação militar. “A expectativa é ir o mais longe possível. Ir além das quartas de final. E, quem sabe, ganhar a Copa do Mundo. Entusiasmo não falta. Eu aposto que isso aqui está mais animado que a torcida do Flamengo”, brincou.

O sonho da final é também alimentado por Mamour, que sabe das dificuldades e da importância de respeitar os adversários. Para ele, Senegal fez hoje um excelente jogo, e o confronto foi parelho, mas os japoneses, conhecidos mundialmente pela disciplina, tiveram o mérito de não abdicar do rigor tático, mesmo estando duas vezes atrás no placar.

“Hoje em dia você tem jogadores de todas as nacionalidades juntos na Europa. Senegaleses e brasileiros, por exemplo, são colegas de time. Dentro das 32 seleções, com exceção de umas três que estão mais fracas, há muito equilíbrio. Veja o jogo da Islândia contra a Argentina. Um país sem tradição na Copa empatou com uma das referências do futebol mundial. Hoje todo o mundo sabe jogar futebol. E é por isso que temos esperança.”