Entre tantos obstáculos das empresas rumo a um modelo de produção de baixo carbono, um mostra-se especialmente desafiador: promover a descarbonização em toda a cadeia de suprimentos. O recém-publicado estudo, realizado pelo Carbon Disclosure Project (CDP) e pelo Boston Consulting Group (BCG),  Engaging the chain: driving speed and scale (sem versão em português), dá dimensão do problema. Segundo os dados  emissões de gases de efeito estufa (GEE) na cadeia de valor de uma empresa são, em média, 11,4 vezes maiores do que as suas próprias emissões.

A despeito do grande impacto que possuem no controle da temperatura global, menos de 5% da cadeia, de uma amostra de 11 mil empresas consultadas, afirmaram já ter colocado em prática planos relacionados às mudanças climáticas. O que as grandes corporações têm a ver com isso? Talvez não tenham relação com o problema em si, mas com certeza fazem parte da solução. E serão cobrados por isso.

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Explicando: pelos padrões globais estabelecidos pelo GHG Protocol, as corporações têm o dever de atuar em três frentes na agenda da descarbonização. No Escopo 1 precisam assegurar a redução das emissões decorrentes das próprias atividades operacionais. No Escopo 2, naquelas decorrentes de uso de energia usadas durante sua atividade produtiva. Por fim, o Escopo 3 diz respeito às emissões contabilizadas pela cadeia de valor. Por hora, o mercado financeiro tem cobrado com mais empenho os dois primeiros escopos, mas chegará a hora de olhar para a cadeia e quem não estiver preparado poderá ser penalizado.

Diversos desafios nesta jornada preocupam os líderes de grandes corporações. Controlar a cadeia em si é um deles. Muitas vezes a lista de fornecedores é tão extensa que mapear as boas práticas para recompensá-las e as más para corrigi-las é tarefa hercúlea. O outro é o esforço financeiro que será necessário para colocar todos em conformidade e o terceiro é achar pessoas qualificadas para cuidar da agenda de forma apropriada in company e também no supply chain.

Seja por amor ou pela dor, algumas empresas já começam a dar pistas de como fazer por meio de tecnologias como a da rastreabilidade de produtos — muito usada pela agropecuária, por exemplo. Já outras não sabem nem por onde começar. Para auxiliar as segundas, o CDP e o BCG acabam de lançar uma plataforma on-line na qual as organizações podem compartilhar seus dados primários de sustentabilidade de forma segura e, por meio da Inteligência Artificial, a ferramenta ajuda as organizações a calcularem as emissões do Escopo 3. Aberta e gratuita, a iniciativa traz em si três pilares essenciais para que a economia net-zero seja viabilizada: dados, transparência e trabalho em conjunto.