Estima-se que a produção global de plástico deve duplicar até 2045 – um número alarmante, dada a grande quantidade que se encontra, e se que continua a se espalhar no ambiente. À medida que se move este material vai se deteriorando, indo do micro ao nanoplástico, o que lhe dá a capacidade de chegar aos locais mais inusitados.

Um estudo divulgado pelo Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, alerta que o Ártico apresenta grandes níveis de poluição de plástico, semelhantes até às regiões povoadas.

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“O Ártico ainda é considerado um deserto intocado em grande parte”, explica a especialista Melanie Bergmann. “Na nossa análise, que realizamos em conjunto com colegas da Noruega, Canadá e Holanda, mostramos que essa percepção já não reflete a realidade. Os nossos ecossistemas mais a norte já são particularmente atingidos pelas alterações climáticas. Isso agora é agravado pela poluição plástica.”

Este material chega ao extremo do Planeta através do vento, das correntes oceânicas e do próprio ser humano. Como explicam os autores, o Oceano Ártico recebe cerca de 10% da descarga das águas dos rios de todo o mundo, que trazem plásticos. Além disso, o plástico encontrado na região é também proveniente das águas residuais das próprias comunidades, e dos navios que por ali passam, como as embarcações de pesca.

“Infelizmente, há muito poucos estudos sobre os efeitos do plástico nos organismos marinhos do Ártico. Mas há evidências de que as consequências são semelhantes às das regiões melhor estudadas: no Ártico também muitos animais – ursos polares, focas, renas e aves marinhas – ficam presas no plástico e morrem. Além disso, no Ártico, o microplástico ingerido involuntariamente leva provavelmente à redução do crescimento e da reprodução, ao stress fisiológico e à inflamações dos tecidos de animais marinhos, e corre até no sangue dos seres humanos”, conta a investigadora.

Outro problema apontado pelos cientistas é o impacto que os microplásticos têm no gelo e na neve. Como referem, partículas mais escuras podem levar o gelo a absorver mais luz solar e a provocar um derretimento mais rápido. A sua presença na atmosfera contribui também para a formação de núcleos de condensação de nuvens e chuva, o que influencia diretamente o clima.

Em conclusão, Melanie Bergmann sugere que, “no decorrer das negociações nos próximos dois anos, devem ser tomadas medidas efetivas e juridicamente vinculantes, inclusive metas de redução na produção do plástico. Nesse sentido, os países europeus incluindo a Alemanha devem reduzir a sua produção de plástico, assim como os ricos Estados do Ártico têm de reduzir a poluição de fontes locais e melhorar a gestão de resíduos e águas residuais, muitas vezes praticamente inexistentes nas suas comunidades. Além disso, são necessários mais regulamentações e maior controlo – no que diz respeito aos detritos plásticos do transporte internacional e da pesca”.