Recém-chegado a Vilnius, neste sábado (22), na primeira etapa de uma viagem de quatro dias pelos países bálticos, o papa Francisco criticou – sem nomeá-los diretamente – os países que “expulsam os outros”, em referência à chegada de migrantes à Europa.

Em seu discurso, Francisco apontou a Lituânia, de maioria católica, como exemplo para a comunidade internacional e para a União Europeia (UE).

Pronunciadas no leste europeu, suas declarações pareciam estar dirigidas, sobretudo, para o grupo de Visegrado (Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia), cujas autoridades não quiseram acolher em seu território os refugiados e migrantes econômicos procedentes, em massa, de Grécia e Itália.

Ao falar para as autoridades lituanas e para o corpo diplomático, Francisco se referiu às “vozes que semeiam divisão e enfrentamento”, instrumentalizando a insegurança, ou os conflitos, ou que “pregam que a única maneira possível de garantir a segurança e a subsistência de uma cultura nasce, buscando eliminar, cancelar, ou expulsar as outras”.

Nesse sentido, acrescentou: “você, lituanos, têm uma palavra autóctone a contribuir: ‘abrigar as diferenças’. Por meio do diálogo, da abertura e da compreensão, estas podem se transformar em uma ponte de união entre o leste e o ocidente europeu”.

“Este pode ser o fruto de uma história madura, que, como povo, vocês oferecem à comunidade internacional e, em particular, a União Europeia”, afirmou o papa.

O sumo pontífice também se referiu a um dos principais problemas dos países bálticos, a emigração dos jovens, e convidou os lituanos a “prestarem especial atenção aos mais jovens, que não são apenas o futuro, mas o presente dessa nação, sempre e desde que permaneçam unidos às raízes do povo”.

– Com os jovens –

Hoje à tarde, Jorge Bergoglio deve se reunir com jovens na praça da catedral de Vilnius, que foi fechada durante a ocupação soviética.

Junto com os demais países bálticos, a Lituânia experimentou um rápido crescimento econômico, o que também levou ao aparecimento das desigualdades sociais, do alcoolismo e, sobretudo, do desejo de emigrar de gerações inteiras de jovens.

Com 3,2 milhões de habitantes, já perdeu um quarto de sua população, um efluxo contínuo ameaçador para seu futuro.

Ao receber o papa, a presidente Dalia Grybauskaite lhe agradeceu pela visita ao país no ano do centenário de sua independência. Ela lembrou que o Vaticano, um dos primeiros a reconhecerem o Estado lituano, nunca aceitou a ocupação por parte da URSS – “uma promessa de liberdade e uma esperança que se viram satisfeitas”.

No domingo, o papa visitará o Museu da Ocupação e da Liberdade Religiosa para comemorar, junto com a comunidade judaica, o 75º aniversário do fechamento do gueto de Vilnius. O local representou o extermínio de quase todos os judeus da cidade.

Até 1940, moravam na Lituânia mais de 200.000 judeus, e Vilnius era conhecida como a “Jerusalém do norte”. Os judeus foram exterminados durante a ocupação nazista entre 1941 e 1944.

Na segunda-feira, o papa segue para a Letônia, país de maioria protestante. Na terça, viaja para a Estônia, considerado o mais ateu do mundo.