A piora das perspectivas para a economia brasileira, na esteira do IPCA-15 de outubro acima do esperado, aliada ao sinal predominante de alta da moeda norte-americana no exterior, levou investidores a recompor posições defensivas no mercado de câmbio doméstico, jogando o dólar para cima na sessão desta terça-feira.

A perspectiva de anúncio de uma alta mais agressiva da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (entre 1,5 e 2 pontos porcentuais) e de um aperto monetário mais prolongado tem, por ora, um efeito misto sobre a taxa de câmbio.

Por um lado, aumenta, em tese, a atratividade das operações de carry trade, já que eleva o diferencial de juros interno e exterior. De outro, aumenta as chances de uma recessão em 2022 e onera o financiamento da dívida pública, justamente em momento de dúvida sobre o regime fiscal. Pela manhã, operadores atribuíram a alta do dólar à inclusão da PEC dos Precatórios, que traz mudança na regra de cálculo do teto dos gastos, na pauta do dia da Câmara dos Deputados. No fim da tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que votação será “muito provavelmente amanhã”.

Espremido entre essas forças contrárias, o real não encontrou nesta terça forças para dar sequência à recuperação esboçada no pregão de segunda-feira, embora não tenha amargado, desta vez, o pior desempenho entre divisas emergentes, papel que coube ao rand sul-africano. O DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou em alta moderada, em dia de dados positivos da confiança do consumidor nos EUA.

Afora uma queda pontual pela manhã, a moeda americana operou com sinal positivo durante todo o pregão e chegou a se situar acima de R$ 5,60 no início da tarde, ao atingir a máxima de R$ 5,6064 (+0,91%). Com arrefecimento da pressão altista ao longo das duas últimas horas da sessão, o dólar fechou a R$ 5,5734, com variação positiva de 0,32% – o que leva a valorização acumulada em outubro a 2,34%

A economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli observa que, embora a alta dos juros possa ter um impacto positivo para o câmbio, a conjunção de um quadro inflacionário ruim, ratificado pelo IPCA-15 de outubro, com baixo crescimento econômico “escancara a fragilidade” do Brasil e limita o fôlego do real. “O combo de incertezas políticas e fiscais, baixo crescimento, alta dos juros e da inflação só pode refletir em mais pressão e volatilidade para a nossa taxa de câmbio”, afirma Quartaroli, ressaltando que a inflação já supera dois dígitos.

Pela manhã, o IBGE divulgou que, depois de ter avançado 1,14% em setembro, o IPCA-15 acelerou para 1,20% em outubro, superando a mediana de 1,00% de Projeções Broadcast e se aproximando do teto das estimativas (1,25%). Em 12 meses, o índice acumula alta de 10,34%.

A resposta do mercado ao IPCA acima do esperado foi jogar mais lenha na fogueira das projeções de alta da taxa básica pelo Copom de quarta-feira, com uma elevação de 1,5 ponto porcentual sendo considerada agora como “piso” pela maioria das instituições. A leitura predominante é que o BC, órfão da política fiscal, tem que ser ainda mais duro para conter a deterioração das expectativas inflacionárias.

O head de câmbio da HCI Investimentos, Anilson Moretti, vê possibilidade de o dólar recuar para o patamar de R$ 5,50 caso o Copom promova, pelo menos, uma alta da Selic em 1,5 ponto porcentual na quarta, de 6,25% para 7,75% ao ano. “A inflação está elevada e a política fiscal provoca muita incerteza. Um aumento mais forte dos juros pode trazer alívio para o câmbio”, afirma Moretti, que vê potencial para entrada de fluxo externo, tanto para explorar o diferencial de juros quanto para eventuais pechinchas na Bolsa. “O BC tem que ao menos tentar estancar essa piora das expectativas que estão acontecendo. Acredito em alta 1,5 ponto”.

Moretti identifica uma pressão “compradora” por dólar por parte das instituições financeiras, que deve se intensificar no fim do ano. O BC, avalia, está “mais atento” à questão cambial, como demonstram as intervenções recentes, tanto para lidar com o overhedge dos bancos quanto para suprir demandas pontuais com oferta extra de swaps e até venda de dólar à vista.

Entre os indicadores divulgados ao longo da tarde, destaque para os dados da arrecadação em setembro, de R$ 149,102 bilhões, acima da mediana das estimativas de Projeções Broadcast (R$ 14,7,70 bilhões) e representou alta real de 12,87% em relação a setembro do ano passado. Pela manhã, dados do Caged mostraram criação de 313.902 postos de trabalho em setembro, abaixo das mediana das projeções, de 360 mil vagas.