Os Estados Unidos afirmaram, nesta sexta-feira (22), que mantêm sua política com Taiwan “inalterada”, depois que o presidente Joe Biden pareceu questionar a “ambiguidade estratégica” que manteve a estabilidade na região até agora.

Qual é a “ambiguidade estratégica” e por que seria arriscado um compromisso firme e claro com Taiwan?

– Dois rivais chineses –

Taiwan se separou da China em 1949, quando as forças nacionalistas do Kuomintang de Chang Kai-shek se refugiaram na antiga ilha Formosa para estabelecerem a República da China, após perderem a guerra civil para os comunistas de Mao Tsé-Tung, que tomaram o continente.

Taiwan, que desfruta de um sistema democrático, é governado de forma independente, enquanto a República Popular da China promete recuperar o que considera uma província rebelde.

Durante os primeiros 30 anos, Pequim bombardeou regularmente as ilhotas taiwanesas mais próximas do continente. Depois, em 1992, ambas as partes alcançaram um “consenso” baseado no princípio de “uma só China”, enquanto se reservavam o direito de fazer diferentes interpretações.

A autonomia da ilha se enraizou com o tempo. A presidente Tsai Ing-wen considera que Taiwan “já é independente” e rejeita o princípio de uma só China.

O Kuomitang, agora na oposição, é a favor de uma aproximação com Pequim e adere ao “consenso de 1992”.

– Mudança diplomática –

Nos anos 50, a maioria dos países não reconhecia a República da China, mas as coisas começaram a mudar nas décadas de 1960 e 1970, quando ficou claro que o Kuomitang não voltaria ao poder em Pequim e que era necessário estabelecer relações com a China de Mao.

Em 1979, os Estados Unidos estabeleceram relações diplomáticas com a República Popular da China às custas de Taiwan. Ao mesmo tempo, adotaram uma política deliberadamente opaca com Taipei, conhecida como “ambiguidade estratégica”, que se abstém de indicar claramente em quais circunstâncias interviriam militarmente para defender a ilha.

Essa política, enquadrada na Lei de Relações com Taiwan, evita provocar Pequim, que poderia vê-la como um pretexto para adotar uma postura mais agressiva com Taiwan, mas também pode frear qualquer inclinação de Taipei a declarar a independência oficialmente.

– Ambiguidade questionada –

Essa ambiguidade permitiu até agora certa estabilidade na região, mas diante da crescente agressividade de Pequim alguns especialistas americanos, como o influente presidente do Conselho das Relações Exteriores, Richard Haass, acreditam que “chegou a hora de os Estados Unidos seguirem uma política de clareza estratégica”.

Sob o governo de Xi Jinping, a China modernizou seu exército nos últimos anos. O presidente chinês, que deve se candidatar para um terceiro mandato no próximo ano, reafirmou recentemente que a reunificação de Taiwan com a China continental é “inevitável”.

Prometeu que aconteceria por meios “pacíficos”, mas o exército americano vê Taiwan como o próximo objetivo de Pequim após a tomada de Hong Kong e teme que seja difícil defender a ilha contra o exército chinês, cuja modernização acelerada é vista com preocupação pelos EUA.