O Ministério da Saúde lançou nesta quarta-feira, 13, a Campanha de Multivacinação, voltada para crianças e adolescentes de até 15 anos para atualizar a carteira de imunização. A iniciativa ocorre em um momento em que o País enfrenta a sua pior cobertura vacinal dos últimos 10 anos. Pelas contas da pasta, 53% do público esperado para ir aos postos já deveria estar como o calendário completo, mas não está.

“Quando se observa os números gerais, a cobertura nacional parece boa. Mas em alguns locais, algumas cidades, a cobertura está abaixo do que seria considerado ideal”, afirmou a coordenadora do Programa de Imunização do Ministério da Saúde, Carla Domingues. Ao longo do tempo, observou, esse fenômeno provoca um aumento significativo da população vulnerável, tornando mais forte o risco de epidemias.

A campanha vai até o dia 22 de setembro. No sábado, 16, será feito em todo o País o Dia D, quando postos fixos e volantes estarão abertos para atualizar a carteira vacinal. Além do envio de 143,9 milhões de doses de vacina de rotina, o ministério encaminhou aos postos de saúde 14,8 milhões de doses extras. Ao todo, serão disponibilizadas 15 vacinas.

Carla atribuiu a baixa cobertura a uma associação de fatores. Para começar, o próprio fato de campanhas anteriores terem sido bem-sucedidas, com a consequente redução de doenças que podem ser evitadas com vacinas. A redução de casos, completou, acabou provocando um efeito inverso do desejado, desmobilizando os pais a procurar manter a carteira em dia.

A coordenadora do programa observou, no entanto, que o risco não pode ser descartado, sobretudo quando se leva em consideração o cenário internacional. Neste ano, por exemplo, foram registradas mortes por sarampo na Alemanha, em Portugal, na França, na Itália, na Bulgária e na Romênia. Além disso, 324 casos de difteria e oito de sarampo foram identificados na Venezuela.

O fato de o esquema de imunização ser longo, com 15 vacinas, também contribuiu para falhas na cobertura, avaliou Carla. “Daí a necessidade de o profissional de saúde ficar atento para a carteira em dia de crianças e adolescentes, ressaltando a importância da proteção.”

Para completar, Carla citou um movimento crescente no País contrário à vacinação. “Nosso esforço é mostrar para os pais o equívoco que é acreditar nos grupos antivacinas. Esses grupos lançam as informações sem veracidade, sem nenhum estudo por trás diferentemente do que faz o ministério”, disse. “As vacinas são incluídas após uma análise sobre a importância da doença e estudos que comprovem que o produto trará benefício e não risco para população.”

Como exemplo da necessidade de uma boa cobertura vacinal, Carla citou a epidemia de febre amarela, que ocorreu no Brasil no início do ano. Mesmo em regiões consideradas de risco, a imunização era muito baixa, embora houvesse a vacina contra a doença disponíveis nos postos.

“A população só quer tomar a vacina para doenças que estão no noticiário. Estamos discutindo num contexto mais global, na prevenção, para que toda população esteja protegida caso ocorra um surto eventual”, disse a coordenadora. “Uma coisa é distribuir 14 milhões de rotina e outra 100 milhões. Oitenta mil doses se o pai não vai vacinar, a vacina se perde por isso que temos de trabalhar na prevenção na rotina.”

Ao todo, vão trabalhar na campanha 350 mil profissionais, distribuídos em 36 mil postos de vacinação. A expectativa é de que sejam usados na operação 42 mil veículos. De acordo com o ministério, 760 mil crianças que deveriam ter tomado vacina contra BCG até um ano estão desprotegidas.

No caso de hepatite, o número é maior, 950 mil não foram vacinados até um ano. No caso da pólio, doença que historicamente atraía milhões de pessoas aos postos de vacinação em décadas passadas, 790 mil crianças até um ano não estão com a carteira em dia.

Carla afirmou que a Região Norte é a que apresenta a mais baixa cobertura. “Mas quando estratificamos por municípios, vemos que o problema é identificado em todas as regiões. O problema não é o acesso, é a população achar que a vacina já é desnecessária, o que não é verdade.”

Entre as doenças com baixa cobertura, as que mais preocupam o ministério é difteria e sarampo.

Além da Campanha Multivacinação, o governo se prepara para organizar nos próximos meses um Dia D nas escolas. A ideia é que todas os colégios públicos do País recebam, em um dia ainda a ser definido pelo governo, profissionais de saúde para que eles possam atualizar a carteira dos estudantes.