O presidente Jair Bolsonaro usou sua transmissão semanal ao vivo pelo Facebook para pedir “paciência” a apoiadores com a indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR), e justificou que “não basta apenas alguém que combata a corrupção” para a escolha do substituto de Raquel Dodge. Ele disse que Aras foi indicado por ser “sensível a outras questões” como temas ambientais, econômicas e de comportamento alinhados à interpretação do governo.

“Alguns do Ministério Público não podem ver uma vara de bambu sendo cortada que já processa todo mundo. Como ficaria a questão ambiental? Como ficaria alguém que tivesse visão muito radical na questão ambiental? Como ficaria o homem do campo?”, argumentou o presidente. “Não queremos um procurador-geral da República que possa fazer tudo, mas também não queremos aquele que não pode fazer nada.”

Bolsonaro também disse que a PGR pode servir como contraponto a votos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como no caso da aprovação da criminalização da homofobia em junho deste ano. Ele defendeu que Aras “tem posição serena nas questões que impactam”, destacando a área ambiental, avaliada como “importantíssima”.

A escolha de Aras, que quebra uma tradição de 16 anos ao optar por um nome de fora da lista tríplice eleita por membros do Ministério Público Federal, desagradou seguidores bolsonaristas na internet. Parte da base de apoiadores do presidente vê no subprocurador proximidade com a esquerda, leniência com a corrupção e distância da Lava Jato. O tema chegou a ser o assunto mais comentado no Twitter entre brasileiros, e alguns apoiadores chegaram a falar em “suicídio político” e fim da “última esperança” na política.

“Atire a primeira pedra quem nunca teve um pecado. Eu tive que escolher alguém”, disse Bolsonaro durante a transmissão.

O presidente também voltou a demonstrar desconforto com as críticas de apoiadores em redes sociais contra a indicação de Augusto Aras para assumir o comando da Procuradoria-Geral da República e pediu um voto de confiança. “Eu devo lealdade ao povo, mas não é essa lealdade cega ao povo”, disse.

‘Se não acreditar, eu caio mais cedo e o PT volta’, diz Bolsonaro

Mais cedo, o presidente parou para conversar com apoiadores em uma grade em frente ao Palácio da Alvorada, em que também comentou a escolha de Aras. Ele reclamou das críticas. “Eu tô recebendo muita crítica de gente que votou em mim. Se não acreditam em mim e continuarem fazendo esses trabalhos de não acreditar, eu caio mais cedo e mais cedo o PT volta”, disse o presidente.

Segundo Bolsonaro, a escolha de Aras se justifica pois “o universo era pequeno”. Ainda de acordo com o presidente, Aras era a melhor escolha, pois as opções que propunham combate mais acirrado à corrupção não concordavam em outras questões. “Um radical (no combate à corrupção) que é favorável à ideologia de gênero, fim da família, essas patifarias todas que estão aí. Isso eu não vou fazer.”